O mundo está discutindo o protagonismo da produção de alimentos e a segurança alimentar como tema estratégico, seguindo de uma tendência de compreender melhor as mudanças na base técnica agrícola saindo da era da química para a era dos transgênicos, mas, sobretudo, para área da bioinsumos, tendo a biodiversidade como o novo paradigma técnico do Século XXI, do pós-pandemia. Aliás, o árduo aprendizado que estamos acumulando na pandemia aponta para um diálogo essencial e estratégico entre agricultura familiar, a saúde e o meio ambiente, no qual a agricultura familiar se eleva como modo de vida e não como mera questão de produtividade. Descarbonização, transição energética e mudanças climáticas dão o cenário para essa discussão.
Assim, as parcerias recentes construídas com o IBGE, a Fiocruz, Conexsus, Imaflora, ISPN e Greenpeace são fundamentais, sobretudo com a Fiocruz para a implementação de territórios saudáveis, sustentáveis e solidários, porque permitem um diálogo exato dessas três dimensões.
Também fazem parte desse escopo a relação construída com o Fórum de Gestores e Gestoras das Políticas para a Agricultura Familiar, o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste e, mais recentemente, com o Consórcio de Governadores da Amazônia Legal para discutir novas configurações da relação entre Estado e Sociedade, exaurida na esfera federal e, principalmente, posicionar a agricultura familiar como uma ação estratégica nos projetos de desenvolvimento das respectivas regiões. Nesse contexto, a luta pela terra, regularização fundiária e a defesa do meio ambiente também estão na ordem do dia.
É evidente que o agronegócio não é capaz de responder à demanda mundial nesse novo paradigma porque seu modelo de produção se baseia no monocultivo para atender a mercados globais com uma visão financeira e industrial. A sociedade transfere para o agronegócio parte de sua renda por meio de subsídios que o viabilizam e este, por sua vez, devolve o aporte produzindo efeitos negativos sobre o meio ambiente, a saúde, a educação, o trabalho e o emprego.
Desse modo, o cenário mundial e brasileiro, qualquer que seja o caminho, deverá passar pela agricultura familiar como uma das estratégias fundamentais para a superação dos desafios da pandemia e do pós-pandemia, pela sua capacidade de contribuir com a preservação ambiental, com a soberania e segurança alimentar e nutricional, a geração de ocupação e renda no espaço rural e urbano, entendendo que esses espaços se relacionam entre si das mais diferentes formas, conformando novas ruralidades.