O Brasil está queimando. O ano tem sido marcado por um preocupante aumento no número de focos de queimadas em diversas regiões. Há fogo de norte a sul, de leste a oeste. Biomas estão sendo devastados, as cidades estão encobertas por fumaça, crianças brincam na chuva de fuligem e fica cada dia mais difícil respirar.
Com aproximadamente 200 mil focos de incêndios, o Brasil lidera o ranking. O número é três vezes maior que o do segundo lugar, a Bolívia, com cerca de 66 mil. Dados do Monitor do Fogo Mapbiomas, divulgados dia 12 de setembro mostram que, de janeiro a agosto de 2024, os incêndios já atingiram 11,39 milhões de hectares do território do País. Apenas no mês de agosto, 5,65 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo, área equivalente ao estado da Paraíba.
“A situação tende a ser agravada por conta do longo período de seca, aliada à baixa umidade do ar, que cria condições propensas a incêndios. Brasília, por exemplo, já acumula 148 dias consecutivos sem chuva, marcando o segundo maior período seco desde 1961, segundo o INMET”, compartilha a secretária de Meio Ambiente da CONTAG, Sandra Paula Bonetti.
A combinação de seca, altas temperaturas, baixa umidade e vento colaboram para a propagação de incêndios florestais como os que estão atingindo o Brasil há várias semanas. Estes fatores são consequências das mudanças climáticas, ondas de calor extremo são muito mais prováveis de acontecer devido ao aumento da temperatura média do planeta, segundo artigo da Global Forest Watch, publicado pela World Resources Institute.
“As causas das queimadas são variadas e complexas, incluindo fatores climáticos, como a seca prolongada, e as atividades humanas, como o desmatamento para expansão da agropecuária e as queimadas tradicionais para renovação de pastagens. Mas, o aumento atípico levanta suspeitas de que boa parte das queimadas seja criminosa”, explicou Sandra Paula Bonetti.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam mais de 2.300 focos de incêndio ativos no país. O Pará lidera com 1.012 áreas de queimadas; seguido do Mato Grosso, com 420; e o Tocantins, com 279 focos. A Amazônia tem a maior concentração dos focos de incêndios, seguido pelo Cerrado.
“Essa situação se agrava a cada dia, com impactos diretos na saúde da população, na biodiversidade e na economia, especialmente para a agricultura familiar”, continua a dirigente da CONTAG.
Para além dos efeitos devastadores ao meio ambiente e na vida dos animais silvestres, os incêndios florestais também impactam a saúde humana, especialmente a das populações amazônicas, como mostrou um estudo da FioCruz. Entre 2010 e 2020, foram registradas no Pará 174 internações hospitalares diárias por doenças do aparelho respiratório, no Mato Grosso 57 e, no Amazonas, 46. Nesse período, 87% das internações hospitalares por doenças respiratórias no Amazonas tiveram relação com as queimadas.
“Mesmo com a possível subnotificação, por conta de inconsistências na base de dados do DataSUS, o estudo mostrou que valores diários extremamente elevados de poluentes contribuíram para aumentar, em até duas vezes, o risco de hospitalização por doenças respiratórias atribuíveis à concentração de partículas inaláveis finas (fumaça)”, afirma o estudo.
Para a secretária de Meio Ambiente da CONTAG, “é fundamental que todos os setores da sociedade se unam para combater as queimadas e seus impactos. Além de intensificar a fiscalização e o combate às queimadas ilegais, é necessário investir em conscientização da crise climática que vivemos, que agrava os riscos das queimadas e investir em sistemas de produção mais sustentáveis como os sistemas tradicionais biodiversos da agricultura familiar: extrativismo, sistemas agroflorestais e agroecológicos.”
Saiba como denunciar as queimadas:
194 para incêndios dentro da cidade
191 para incêndios próximos a estradas
0800 061 8080 para incêndios em áreas agrícolas ou de vegetação nativa
147 para denunciar à Polícia Civil
Por Malu Souza / Comunicação CONTAG e Raul Zoche / Assessoria de Meio Ambiente da CONTAG