A inflação não dá trégua. O índice da inflação de outubro, divulgado nesta quinta-feira (11), chegou a 1,25% e foi 45% maior do que o registrado em outubro de 2020. A inflação de alimentos e bebidas foi ligeiramente mais baixa que o índice geral, 1,17%. O índice, contudo, permanece alto indicando que a inflação acumulada em 12 meses permanecerá acima dos 2 dígitos no futuro próximo. O IPCA atualizado ficou em 10,67% em outubro. Os preços de alimentos e bebidas, por sua vez, registram aumento de 11,71% no acumulado em 12 meses.
Para as classes mais baixas, a inflação é ainda maior do que para os mais abastados em cerca de 23%, como mostra o IPEA. Os analistas estão revendo para cima a previsão da inflação para 2021, e agora se aproximam de um IPCA de 10%, segundo o último relatório Focus do Banco Central, de 08/11/2021. O tamanho do problema pode ser medido pela estimativa que consta no PLOA 2022, enviado pelo governo em 31/08 com uma previsão de 5,9% para o IPCA.
Alimentos e bebidas
No item alimentos e bebidas, o destaque ficou por conta do aumento do açúcar refinado, do café moído e do milho, três produtos que sofrem influência do preço internacional. Os tubérculos também apresentaram forte alta, em especial a mandioca, batata doce e batata inglesa. O óleo de soja, margarina, tomates, aves, ovos e a carne vermelha também tiveram elevação acima do índice geral, puxando a sua alta. A queda ficou restrita a poucos itens deste grupo, em particular o arroz, o inhame e a cebola. A tabela abaixo traz o IPCA acumulado em 12 meses para itens selecionados.
Energia e combustíveis
O preço da energia e combustíveis voltou a preocupar com grande elevação em outubro. O gás de botijão subiu 3,67% no mês e registrou uma variação acumulada em 12 meses de 37,9%. A gasolina subiu 42,7% no mesmo período, o óleo diesel 41,3%. A maior alta registrada foi a do etanol, 5,8% no mês e 67,4% no acumulado em 12 meses. A elevação desses preços e a volta ao trabalho devem puxar o preço da alimentação, em especial fora de casa.
Inflação e taxa de juros
O risco de a inflação continuar se espalhando deve incentivar a elevação da taxa de juros por parte do Banco Central, prejudicando a oferta de crédito. A elevação dos juros em 1,5% percentual pode ser repetida na próxima reunião, sendo que alguns analistas apostam inclusive em um aumento ainda maior.
Com isso, sobe o custo do crédito para os tomadores o que pode acabar impactando o investimento tanto no setor industrial como agrícola. Os juros em alta são um alerta também para aqueles que apostaram na capacidade de o país manter os juros baixos, e nos instrumentos de captação a mercado, em substituição às linhas subsidiadas e a equalização do crédito pelo governo federal.
Os investimentos dependem não apenas da taxa de juros, o que os economistas chamam de o preço do dinheiro, mas também a incerteza ou da confiança.
Inflação, fome e desemprego
O cenário de elevação dos juros e redução dos investimentos é ruim para o país, que conta atualmente com um dos maiores níveis de desemprego da história recente. A redução da oferta por meio do aperto monetário provocada pelo aumento dos juros deve refletir no mercado de trabalho com uma diminuição da demanda por empregos, justamente quando temos mais de 14 milhões de desempregados(as) na fila atrás de uma vaga.
É preciso lembrar que, neste momento, o Congresso está analisando o PLOA 2022, que na proposta original do governo traz uma redução de 36,9% do investimento, para R$ 25 bilhões, praticamente metade do observado em 2020. O corte de recurso no orçamento indica que os investimentos públicos não são a prioridade do governo, e o mesmo pode ser observado para a agricultura familiar.
Na proposta do governo para o PLOA 2022, a Política Agrária perdeu mais de R$ 500 milhões de recursos, uma redução de 209%; a Política Agrícola teve redução de 2,6% em termos nominais, com destaque para redução de R$ 926 milhões para aquisição de produtos da agricultura familiar para formação de estoques públicos. O quadro comparativo agregado pelas áreas acompanhadas pela CONTAG segue abaixo, no cômputo geral o crescimento nominal de 1,6% não cobre nem a inflação de 2020 que deve chegar a 10%. A CONTAG vem trabalhando junto aos(às) parlamentares para recompor os recursos das principais políticas para Agricultura Familiar por meio de emendas à proposta do governo, e acredita que o orçamento possa ser melhorado apesar da resistência que vêm encontrando junto a base de apoio do governo.
O país precisa que o governo federal retome a direção do desenvolvimento. Enquanto isso não ocorre, os investimentos são adiados e as filas do desemprego e dos programas sociais aumentam. A preocupação com a fome é urgente, a população de rua aumentou a olhos vistos, e não há planejamento ou estratégia clara para contornar a crise atual.
Os(as) jovens têm sofrido particularmente com a crise, muitos deixando as escolas para buscar trabalho informal para completar a renda familiar, uma vez que o formal é insuficiente para abrigar até mesmo aqueles já com experiência e boa formação. Se continuar assim, perderemos mais uma década e desperdiçaremos mais uma geração, um futuro jogado no lixo. É preciso trabalhar para recolocar o País no caminho do crescimento com inclusão social.
FONTE: Subseção do Dieese/CONTAG