A inflação voltou a subir mesmo diante da queda do dólar e da elevação dos juros pelo Banco Central. O índice de março foi o maior desde 2003. O governo não colaborou, promovendo gastos extraordinários com vistas à reeleição e abdicando de qualquer compromisso com a estabilidade dos preços.
O problema inflacionário atual não é de demanda, mas de oferta. O País está com desemprego alto e persistente e com a inflação corroendo a renda do(a) trabalhador(a), e pressionando os empresários pelo aumento dos custos de produção. Na área dos alimentos, o que tivemos foi a desestruturação dos estoques regulatórios e das compras institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O governo boicotou os seus próprios instrumentos para lidar com a crise. O erro de avaliação permitiu que a inflação se alastrasse e saísse do controle. O índice de preços e alimentos que havia subido, voltou a cair, mas o restante dos componentes continuou a subir, principalmente energia e combustível. Esses, por fim, voltaram a pressionar os preços dos alimentos, que passou novamente o índice geral acumulado em 12 meses, chegando a 11,61%, contra 11,4% do índice geral (IPCA).
Não é apenas a inflação aumentando, mas a real perda de poder aquisitivo, perda de poder de compra dos(as) trabalhadores(as) que está sendo sentida pelo povo. A inflação está corroendo a renda, estamos ficando mais pobres e os(as) trabalhadores(as) estão sem poder de barganha para pressionar por uma recomposição do poder de compra dos salários. Não podemos esquecer que o gás de botijão subiu quase 30% nos últimos 12 meses, e o óleo diesel 46,5%. O cenário fica ainda mais grave quando a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor apontou que em março o percentual de famílias endividadas alcançou 77,5%, o maior nos últimos 12 anos.
A queda do rendimento real de todos os trabalhos chega a cerca de 10% em março, em relação a março de 2020, e cerca de 7% em relação a 2021. A queda dupla da demanda interna com a alta do desemprego e a desvalorização dos salários tem impacto direto sobre a qualidade de vida dos(as) trabalhadores(as). O(a) trabalhador(a) está perdendo seu poder de compra com seu salário, que mal dá para chegar ao fim do mês.
O problema é agravado pelo fato de a cesta básica ter subido num ritmo muito maior que o salário. Se antes o(a) trabalhador(a), em grande parte do País, consumia menos de 50% do salário-mínimo com a cesta básica, hoje, a situação se inverteu em quase todas as capitais pesquisadas (17), chegando acima dos 60% em 08 capitais das 17. Apenas em Aracaju a cesta continua a ser menor do que metade do salário mínimo.
Com a perda de poder de compra e aumento da inflação, muitos(as) brasileiros(as) têm passado fome, ou mudado os hábitos alimentares para comer menos, e produtos de pior qualidade. As consequências são péssimas a longo prazo, agravando os problemas de saúdes vinculados a má alimentação, obesidade e a subnutrição. É preciso fortalecer as políticas de segurança alimentar e nutricional e o controle de estoques públicos para que possamos enfrentar os desafios atuais e os que se colocam mais adiante. FONTE: Subseção do Dieese/CONTAG