O Dia Mundial da Alimentação é celebrado em todo o mundo no dia 16 de outubro. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em 1945 com o objetivo de alertar a população sobre a importância da alimentação saudável, que precisa ser acessível e de qualidade, de forma que todas as pessoas possam ter Segurança Alimentar e Nutricional.
A data também tem o objetivo de chamar a atenção da sociedade para os problemas associados à alimentação, a exemplo de questões sociais como a fome, a desnutrição e a pobreza, abrindo um amplo debate em busca de soluções para superação da fome no mundo, a oferta de alimentos de qualidade e em quantidade suficiente à população.
Já no dia 17 de outubro é celebrado o Dia Internacional de Luta contra a Pobreza. Outra data ligada à reflexão proposta pelo Dia Mundial da Alimentação a partir de um cenário crítico vivido no País de aumento da fome, da pobreza e da desigualdade.
No Brasil, além da crise econômica e social, a pandemia agravou a situação. Ao longo dos últimos anos, as famílias brasileiras veem sua renda reduzir, cenário que está sendo agravado pela inflação que deve chegar a 8% até o fim do ano, segundo as estimativas do mercado. O custo dos alimentos, do gás e da energia corroem o poder de compra dos salários, prejudicando ainda mais a situação das famílias, especialmente as mais pobres.
O resultado é um aumento da pobreza generalizado em todo o País. A população de rua aumenta, a violência avança e o governo continua omisso e focado no desmonte de políticas públicas que são estratégicas no combate à fome e à pobreza.
No início do ano, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN) divulgou o relatório do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Os resultados da pesquisa revelaram a gravidade da miséria e indicaram que o Brasil tinha infelizmente retornado ao Mapa da Fome: Do total de 211,7 milhões de pessoas, 116,8 milhões conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar (IA) - leve, moderada ou grave. Destes, 43,4 milhões não contavam com alimentos em quantidade suficiente para atender suas necessidades (IA moderada ou grave). Tiveram que conviver e enfrentar a fome, 19 milhões de brasileiros(as).
Com metade do País convivendo com algum grau de insegurança alimentar e 9% passando fome, a situação ainda é pior na área rural, onde 12% dos domicílios enfrentavam a insegurança alimentar grave, ou dito de forma direta, passavam fome. Se somarmos os 14,9% de domicílios com insegurança alimentar moderada, na área rural chegamos a 26,9% dos domicílios assolados pela carestia, um número 32% maior do que aquele observado na área urbana.
Mas, tudo isto parece não despertar o interesse do governo e parte do Congresso Nacional. Mais do que isso, todos os mecanismos que foram conquistados pelo povo brasileiro para combater a fome, a miséria e gerar emprego e renda estão sendo sistematicamente atacados com medidas provisórias, projetos de lei e atos administrativos, como o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e a Previdência Social.
ENCONTRO DOS MOVIMENTOS DO CAMPO, DAS FLORESTAS E DAS ÁGUAS
Esse cenário foi bastante debatido no Encontro dos Movimentos do Campo, das Florestas e das Águas pela vida e contra a fome, realizado na manhã desta sexta-feira (15) em São Paulo, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com transmissão nas redes sociais. Durante o evento foi reconhecida da importância da agricultura familiar na produção de comida de verdade para enfrentar a fome.
A agricultura familiar é responsável pela produção de mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e brasileiras e pela maioria absoluta das ocupações no meio rural e representa o oitavo maior produtor de alimentos do planeta. A agricultura familiar tem todo esse potencial de produção de alimentos mesmo ocupando apenas 23% das terras agricultáveis do País, que representam 77% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Imagina o que seria do Brasil se a agricultura familiar ocupasse 50% das terras agricultáveis?, destacou o presidente da CONTAG, Aristides Santos, durante o encontro.
Aristides também ressaltou que, mesmo sofrendo com os efeitos gerados pela pandemia de Covid-19, a agricultura familiar brasileira permaneceu produzindo alimentos saudáveis. As pessoas estão passando fome não é por falta de produção de alimentos, mas sim da falta de renda gerada pelo aumento do desemprego, da inflação e omissão pelo governo. Inclusive, a CONTAG, a partir da campanha Campo Conectado pelo Bem, e demais organizações sociais realizaram, ao longo da pandemia, muitas campanhas solidárias de distribuição de milhares de toneladas de alimentos, disse o presidente da CONTAG.
Luiz Inácio Lula da Silva relembrou momentos em que esteve na Presidência da República nesse trabalho de combate à fome e à pobreza. Quando fomos criar o Fome Zero, nenhum município queria ser considerado o mais pobre do País. As pessoas não gostam de ser pobres, não têm orgulho de dizer que são pobres. Então, não é a pessoa que passa fome que vai lutar por ela mesma. E a minha convivência com vocês me fez compreender que a fome não leva ninguém à revolução. A fome leva o povo à submissão.
Infelizmente, ainda vivemos um momento em que a cabeça da elite brasileira continua sendo escravista. É o único significado da existência da fome. Podemos produzir a quantidade de alimentos que quisermos, se o povo não tiver dinheiro, não come. E a fome não é só de comida: temos fome de emprego, de educação, de cultura, de direitos humanos, de salário justo, de desenvolvimento, de empresas públicas, de justiça, de saúde de qualidade, de reforma agrária, de democracia..., completou Lula.
Além de levar a mensagem dos trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares neste importante evento, o presidente da CONTAG, Aristides Santos, e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santo Antônio da Patrulha/RS, Samuel Santos, entregaram uma cesta com produtos da agricultura familiar para Lula e uma camisa do Centenário de Paulo Freire para Fernando Haddad, homenageado pelo Dia do(a) Professor(a).
FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Verônica Tozzi