Conforme matérias divulgadas por vários jornais na última semana, no Brasil há riscos iminentes de falta de medicamentos para intubação de pacientes em UTIs. Segundo uma das reportagens, o chamado kit intubação - com medicamentos para anestesia, sedação e relaxamento muscular - está quase zerado e em grande parte do país e pode não durar os próximos 20 dias.
Também em matéria divulgada pela CNN Brasil, em 19 de março de 2021, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) informou que, em 12 de agosto de 2020, o governo federal cancelou a chamada Operação Uruguai II, que tinha como objetivo importar do país vizinho mais insumos médicos necessários para o tratamento e intubação de pacientes vítimas da Covid-19. De acordo com informações do CNS, o governo federal não prestou informações sobre os motivos que o levou a efetuar o cancelamento.
Preocupado com essa desistência da compra destes medicamentos, o Conselho Nacional de Saúde emitiu, em 20 de agosto de 2020, a Recomendação nº 54, alertando ao Ministério da Saúde sobre os riscos deste cancelamento. Na Recomendação nº 54, além da recomendação sobre a compra de medicamentos, o CNS recomendou também que o Ministério da Saúde assumisse a coordenação nacional e disponibilizasse os recursos para a saúde, com especial atenção para o combate à pandemia.
Destaca-se, ainda, que em maio de 2020, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) também encaminharam notificações ao Ministério da Saúde, alertando sobre a possível falta de medicamentos necessários para intubação no País.
O Brasil se aproxima das 300 mil mortes. Neste domingo, 21 de março, o país registrou 11.998.233 casos acumulados e 294.042 óbitos. O aumento da média móvel de casos e de óbitos agrava a situação da rede hospitalar. O último boletim divulgado pela Fiocruz, em 17 de março, traz a seguinte taxa de ocupação nos leitos de UTIs: dos 26 estados da federação mais o Distrito Federal, 24 estão com taxas iguais ou superiores a 80%, sendo que destes, 15 estão com taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estão com taxas de ocupação de leitos de UTI para adultos iguais ou superiores a 80%, sendo que destes, 19 estão com taxas superiores a 90%. De acordo com a classificação da Fiocruz, quando estes índices estão acima de 80% a situação é considerada crítica.
Especialistas chamam atenção que, disponibilizar leitos de UTI sem a disponibilização dos medicamentos para intubação e sem a tomada de medidas necessárias de isolamento físico, uso de máscara, álcool em gel e sem a retomada urgente do auxílio emergencial, o Brasil não resolverá a situação de colapso em que se encontra a sua a rede hospitalar.
A situação é tão grave que, neste domingo, dia 21 de março, mais de 500 economistas, banqueiros e empresários, que sempre apoiaram o presidente, agora elaboraram uma carta aberta à sociedade manifestando-se contra a postura do governo federal frente às medidas de combate à pandemia. Na referida carta, apresentam quatro recomendações: (i) acelerar o ritmo da vacinação, o Brasil somente vacinou em torno de 5% da sua população; (ii) incentivar o uso de máscaras tanto com distribuição gratuita quanto com orientação educativa; (iii) implementar medidas de distanciamento social no âmbito local com coordenação nacional; e (iv) criar mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional preferencialmente pelo Ministério da Saúde e, na sua ausência, por consórcio de governadores orientada por uma comissão de cientistas e especialistas. Alertam, ainda, para o efeito devastador da pandemia sobre a economia e para a precariedade do nosso sistema de proteção social e, neste sentido, chamam a atenção para a importância do auxílio emergencial como única forma de proteção para os trabalhadores e trabalhadoras mais vulneráveis. Concluem a carta relatando que o país tem pressa; o país quer seriedade com a coisa pública; o país está cansado de ideias fora do lugar, palavras inconsequentes, ações erradas ou tardias. O Brasil exige respeito.
A CONTAG vê com muita preocupação a falta de medicamentos de intubação, se solidariza a todas as famílias que perderam seus entes queridos e repudia a forma como o governo federal vem tratando a pandemia. Reforça a luta pela aprovação urgente da continuidade do auxílio emergencial de R$ 600,00 enquanto durar a pandemia, se soma às recomendações do Conselho Nacional de Saúde pelo aumento do orçamento da Saúde e, mais do que nunca, reforça que está comprovada a importância de continuarmos fortalecendo o SUS, principalmente no combate à Covid-19.
Diretoria da CONTAG
FONTE: Diretoria da CONTAG