O IBGE divulgou os dados do desemprego em maio: a taxa caiu para 9,8%, a menor desde janeiro de 2016, mas ainda é maior do que a observada no mesmo mês de maio de 2015, quando ficou em 8,1%. Os sinais do mercado de trabalho são positivos. O trabalho com carteira assinada cresceu mais do que o sem carteira este ano, puxado pelo emprego com CLT no setor privado, empregador(a) com CNPJ, e trabalhadores(as) no setor público que não são “estatutários” nem militares.
Segundo o IBGE, temos 1 milhão a mais de trabalhadores(as) com carteira assinada no setor privado, e 400 mil no setor público. O trabalho precário também cresceu, principalmente no setor privado sem carteira assinada, com quase 440 mil novos trabalhadores e trabalhadoras desde dezembro de 2021, incluindo trabalhadores(as) domésticos(as), e mais de 350 mil empregadores(as) e trabalhadores(as) por conta própria sem CNPJ.
Os dados do PIB e a alta dos juros mostram que as chances de uma recessão “intencional” são grandes, uma vez que a prioridade do Banco Central é conter a inflação. Ninguém quer reviver o período longo de inflação e desemprego que deixamos para trás na década de 1990. As fichas serão dadas em conter a volta da inflação e o mercado de trabalho terá de esperar para voltar ao período de “pleno emprego” vivido entre 2008 e 2014.
O II Relatório Vigisan de 2022 mostrou que: “É muito baixo o rendimento da população brasileira, uma vez que 36,8% das famílias tinham renda per capita média de até 1/2 salário mínimo. Entre essas famílias, cerca da metade vivia com, no máximo, 1/4 de SMPC para atender às suas despesas. Em 14,3% dos domicílios havia pelo menos 1 morador(a) procurando emprego, e em 8,2%, a pessoa responsável pela família estava desempregada (...). Em 1/3 dos domicílios (30,7%) já havia relato de insuficiência de alimentos que atendessem às necessidades de seus moradores/as, ou seja, insegurança alimentar (IA) moderada ou grave, dos quais 15,5%, conviviam com experiências de fome.”
Hoje, o Brasil ainda conta com mais de 10 milhões de desempregados(as) e com uma população cada vez mais pobre e desigual, a volta do País ao mapa da fome é um alerta. O desafio de continuar gerando bons empregos e de cuidar da inflação para que a renda do trabalho não seja corroída pelo aumento de preços é enorme, e exige um esforço conjunto da sociedade e do governo. O crescimento é uma virtude e não uma sina. Sem boas políticas públicas não resolveremos este problema. O governo insiste em medidas mais para capitalizar nas eleições do que agir de forma a alavancar o crescimento sustentável da economia, já que a maioria das ações se limita a dezembro de 2022. Razão disso é propor um novo auxílio que sequer atende a compra de uma cesta básica. O desafio fundamental é menos em fazer o bolo crescer, mas em reparti-lo de forma mais justa. É preciso arregaçar a manga, e estender a mão.
Fonte: Alexandre Ferraz - Subseção Dieese/CONTAG