Apesar do avanço no enfrentamento à pandemia de Covid-19 com a maior parte da população brasileira vacinada, os trabalhadores e trabalhadoras rurais continuam sofrendo com as consequências da crise econômica, social e sanitária que vive o País, principalmente sem apoio por parte do governo federal.
Durante esses dois anos, a CONTAG vem denunciando a falta de prioridade do governo e de parte do Congresso Nacional com a categoria trabalhadora rural, tão impactada com a suspensão das feiras livres, o cancelamento das aulas presenciais, mudanças nos programas de compras governamentais e nos programas sociais, precarização do trabalho, desvalorização do salário mínimo, inflação sem controle, entre outros retrocessos que atingem diretamente quem trabalho muito e ganha pouco.
No Brasil, de acordo com os dados do Censo Agropecuário 2017, são 17,3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras ocupados(as) em estabelecimentos agropecuários, responsáveis pela produção de mais de 70% dos alimentos que chegam diariamente às mesas dos brasileiros e brasileiras. Nesse momento de aumento da fome no País, a produção de alimentos é um dos serviços essenciais, é estratégica para a garantia da soberania e segurança alimentar.
Segundo levantamento do Dieese, quase 30 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a viver em insegurança alimentar. O Brasil tem, oficialmente, 14,5 milhões de famílias registradas no CadÚnico vivendo em extrema pobreza, ou seja, uma média de 40 milhões de pessoas. No entanto, esse número pode ser ainda maior, pois nem todas as famílias estão no Cadastro Único do governo federal.
“Essa situação tende a piorar ao longo dos próximos meses por conta da conjuntura do País. Portanto, a produção de alimentos é importante e deve ser uma Estratégia de Nação. Estamos na luta, desde o início da pandemia, para que sejam aprovadas medidas emergenciais para garantir investimentos na produção de alimentos saudáveis e auxílio emergencial para trabalhadores e trabalhadoras rurais. Mas, o que vemos, é a falta de reconhecimento e de prioridade com uma categoria tão importante, inclusive para a superação das consequências da pandemia e da fome”, destaca o presidente da CONTAG, Aristides Santos.
Aristides completa que a partir de muita luta foi aprovada a Lei Assis Carvalho II. O presidente da República chegou vetar, mas o Congresso Nacional derrubou o veto. “No entanto, o governo ainda não regulamentou. As populações do campo, da floresta e das águas precisam ser valorizadas e respeitadas”, ressaltou o presidente da CONTAG.
As mulheres trabalhadoras rurais foram bastante impactadas nesse cenário de pandemia, com dificuldades para acessar as políticas públicas e de estarem excluídas do auxílio emergencial. Os impactos aumentam nessa conjuntura de inflação, desvalorização do salário mínimo, de aumento do desemprego e de sobrecarga de trabalho. “Desde o início da pandemia destacamos a importância da divisão justa do trabalho doméstico, pois as mulheres estão sobrecarregadas. Ao longo de dois anos de pandemia, acumularam o teletrabalho com os cuidados da casa, das crianças e dos idosos e idosas da família. Essa rotina permanece e até piora com o retorno do trabalho presencial aliado ao teletrabalho. No campo, na floresta e nas águas as mulheres ainda acumulam o cuidado com os seus quintais produtivos, com os pequenos animais e outras tarefas da lida na roça. Além disso, as mulheres trabalhadoras rurais, em sua maioria, perderam boa parte de sua renda com a diminuição da venda da produção agrícola e, para piorar, foram excluídas do auxílio emergencial”, destaca a secretária de Mulheres da CONTAG e coordenadora geral da Marcha das Margaridas, Mazé Morais.
Para a Diretoria da CONTAG, a melhor forma de homenagear o trabalhador e a trabalhadora rural pelo seu dia é fortalecer, ainda mais, a luta por mais direitos, por dignidade e por mais condições para viver bem e trabalhar no campo com renda, produzindo alimentos saudáveis para alimentar todo o Brasil.
Viva os trabalhadores e as trabalhadoras rurais!