O Seminário Internacional sobre Violência no Campo, ocorrido ontem (4) durante o 11º Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais, foi um momento no qual os participantes puderam se ver como trabalhadores(as) rurais e se reconhecer diante de uma realidade que deixa, muitas vezes, marcas irreversíveis.
O evento foi coordenado pela União Internacional de Trabalhadores da Alimentação, Agrícolas, Hotéis, Restaurantes, Tabaco e Afins (UITA), pela Confederação de Produtores Familiares do MERCOSUL Ampliado (COPROFAM) e pela Confederação de Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Na mesa de abertura estavam presentes Alberto Ercílio Broch (presidente da CONTAG), Gerardo Iglesias (Secretário Executivo Regional da UITA) e Alessandra Lunas (secretária Geral da COPROFAM, secretária de Relações Internacionais e vice-presidente da CONTAG).
Para Alberto Broch, a violência é preocupante na nossa sociedade porque ela existe de diferentes formas: além violência contra os direito humanos e trabalhistas, ela toma forma na pobreza, na falta de oportunidades e na negação de direitos básicos como educação e saúde. “Não seremos uma América Latina desenvolvida se convivermos com todos esses tipos de violência. Precisamos discutir e avançar”, alerta Alberto.
Segundo Alessandra Lunas, no Maranhão, por exemplo, muitas famílias foram despejadas de suas casas. De acordo com a secretária, essas ações vem acontecendo numa disputa rural onde ocorre uma expansão significativa de determinadas monocultoras de produção de cana-de-açúcar. “Até onde é preciso conciliar os interesses da exportação, produção de grande escala com os interesses também sociais das famílias que estão envolvidas? E como dar uma outra condição de qualidade de vida para essas famílias?”, questiona. De acordo com Gerardo Iglesias, a maioria da América Latina sofre com esta situação de uma violência que mata e assassina. “Na Colômbia, por exemplo, 700 sindicalistas do Sindicato Nacional da Indústria Agropecuária foram assassinados”, relatou. Segundos dados da ONU, a cada dez dirigente assassinados no mundo, seis são colombianos.
O Seminário foi dividido em dois painéis: “As diversas formas de violência contra os(as) assalariados(as) rurais e seus direitos: trabalho escravo e precarização das relações de trabalho” e “Violência no Campo relacionada à disputa pela terra e o território”. PAINEL I Moderado por Antonio Lucas, secretário de Assalariados(as) Rurais da CONTAG, o primeiro painel teve como participantes William Mosquera e Jhonsson Torres (ambos da SINTRAINAGRO/Colombia), Noé Ramírez (SITRABI/Guatemala) Leonardo Sakamoto (Repórter Brasil).
Segundo dados sobre trabalho escravo apresentados durante o painel, de 1995 a 2012 foram libertados 44.230 trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil e estima-se que outros 25 mil ainda são vítimas da escravidão. Jonh Jhonsson disse que um dos problemas na Colômbia é que o governo não prorrogou a reforma agrária. “O setor agropecuário”, revelou, “está abandonado. Não temos nem terra, nem assistência técnica e nem sustentabilidade para avançar neste setor”.
PAINEL II Moderado por Willian Clementino, secretário de Política Agrária da CONTAG, o segundo painel contou com a presença de Calixto Zarate e Giorgio Trucchi (ambos da UITA/Nicaragua), Jose Miguel Nahuelpan (Mucech/Chile) e Udo Wahlbrink (Sttr de Vilhena, Rondônia/Brasil), dentre outros.
Em seu depoimento Udo Wahlbrink, disse que sentiu na pele o que é defender os direitos de trabalhadores(as) rurais. “Há uma disputa de terra muito forte. Famílias são despejadas de forma violenta e sem diálogo”, afirmou. Udo contou também que esteve injustamente preso por oito meses e dez dias e sofreu inúmeras violências e intimidações, além de não ter tido direito a comunicação.
Segundo Miguel Nahuelpan, o Chile computa 50 presos políticos, 10 companheiros assassinados e oitos desaparecidos. “Mulheres, crianças, idosos, todos estão sofrendo”, afirmou. “Esperamos que esta luta seja internacionalizada”, concluiu.
CARTAABERTA No final do Seminário Internacional Sobre Violência no Campo, foi lida e aprovada a Carta Aberta. Para Alessandra Lunas, a pauta do documento unifica a America Latina. “A conjuntura que a América Latina esta vivendo apresenta uma agenda em comum. Que esta carta possa intervir e reverter este quadro de violência no campo”, afirmou.
Clique nos links abaixo para ler a Carta na íntegra. PORTUGUÊS ESPANHOL FONTE: Imprensa CONTAG - Carolina Almeida