O pistoleiro queria disparar na boca de Eugênio Benites, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bela Vista
Willian Clementino, secretário de Política Agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), se dirigiu ao município de Bela Vista no estado de Mato Grosso do Sul (região Centro-Oeste do Brasil) para acompanhar e realizar as gestões pertinentes, diante do atentado sofrido, dia 21 de março passado, pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais dessa localidade. A Rel dialogou com Willian Clementino para saber mais detalhes sobre esta grave situação.
Qual foi o panorama que você encontrou ao chegar a Bela Vista? Cheguei ao lugar no dia seguinte ao atentado contra o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Bela Vista, Eugênio Benites e sua família. Atentado este que, como você sabe, não só é responsável pela internação dele e de sua filha, devido às feridas que sofreram, como também custou a vida de sua esposa, Fátima Benites. Benites é um dos assentados da reforma agrária, em um assentamento situado na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, onde pudemos constatar in loco que a situação do dirigente é extremamente grave, e não só em termos de saúde. O assentamento foi ocupado por arrozeiros provenientes do estado de São Paulo, que desmataram a área de reserva legal para a plantação extensiva de arroz, numa extensão de cerca de 600 hectares. Este fato foi reiteradamente denunciado pelo Sindicato ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e pode ter sido este o motivo do atentado. Você conseguiu falar com o Benites? Sim, fui visitá-lo no hospital e foi comovedor escutar o seu relato sobre o que aconteceu. O mais impactante foi escutá-lo dizer que o assassino tentou, de todas as formas, atirar na sua boca, apesar dele já estar com as duas pernas quebradas devido aos tiros recebidos. E, mesmo assim, Benites conseguiu se defender. Segundo Benites o pistoleiro não queria atirar de longe, porque se quisesse o teria matado logo. Mas não, o pistoleiro atirou nas pernas para poder se aproximar e então dar o tiro de misericórdia na sua boca. É por essa razão que o dirigente acredita que o atentado tem a ver com as denúncias feitas por Benites, todas relacionadas à invasão de terras pertencentes à reforma agrária, feitas por empresários e latifundiários. Qual é o estado de saúde do Eugênio e de sua filha? O Eugênio está em um município no estado de Mato Grosso, esperando para ser operado. Evitamos mencionar a localização exata do companheiro para preservar sua segurança. O quadro da filha evolui favoravelmente e ela permanece internada em Bela Vista, onde conta com uma escolta permanente da Polícia Militar. O que o inquérito policial diz sobre o crime? Quando fomos à delegacia do município para nos inteirarmos do assunto, pudemos constatar que, no dia do atentado, não havia delegado de plantão, só estava um carcereiro, que nos informou que a delegada interina está se aposentando, e que só no dia 26 de março seria designado um novo delegado para a região. Diante desta situação, a CONTAG encaminhou, por meio da Ouvidoria Agrária Nacional, um pedido urgente ao governo do estado do Mato Grosso do Sul, para agilizarem a designação de um delegado que se encarregue especialmente deste caso. Vocês se reuniram com mais alguma autoridade? Sim, nós nos reunimos com o prefeito de Bela Vista e lhe pedimos apoio na investigação para que seja esclarecido o atentado contra Eugênio, sua filha e o assassinato de sua esposa. Nós da CONTAG estamos, também, pedindo ao governo federal um amparo para os sobreviventes do atentado, isto é, que seja dada proteção a esta família, além de estarmos pressionando os órgãos competentes, Ministério da Justiça, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Comissão de Direitos Humanos da Câmara e governo do estado do Mato Grosso, para que este atentado seja esclarecido o mais rápido possível. Além disso, estamos fazendo diversas denúncias públicas que ajudem a divulgar esta grave situação, visando a dar maior visibilidade ao problema, que os organismos competentes se encarreguem do assunto e deem um basta a este rio de sangue no qual se transformou o campo no Brasil. FONTE: Rel-UITA - Amalia Antúnez