Encerrando os trabalhos dessa quinta (29 de novembro), os participantes do Seminário Nacional Reforma Agrária e PNCF analisaram, em grupo, as idéias centrais identificadas a partir das exposições sobre os dois modelos em disputa para o desenvolvimento rural: o Agronegócio e a Agricultura Familiar. Questões como Quem vai alimentar o mundo? Quem responde às necessidades de conservação dos recursos naturais? O que é ser moderno? e Qual dos modelos responde à promoção da inclusão, democracia e garantia de direitos? nortearam os debates, considerando o movimento sindical na luta pela reforma agrária, as relações com o Estado e as políticas públicas, a comunicação e a relação com a sociedade e, por fim, a prática do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário – PADRSSS. A força do Agronegócio foi analisada a partir do conjunto de mecanismos que a sustenta, a exemplo do apoio fornecido pelo governo e construído pela sociedade; de sua força econômica; de sua forte representação política no Legislativo; do seu poder de intervenção na estrutura do Estado (Legislativo, Judiciário e Executivo); pelo apoio da mídia; com a ciência e tecnologia a seu serviço; através do pacto de classe estabelecido pela elite em torno de seus membros; pela capacidade de cooptação de setores populares da sociedade; da construção de um campo cultural favorável, associado ao moderno, eficiente, produtivo, padronizado e de um cenário internacional alinhado para o seu fortalecimento (valorização e comodities e elevação do preço das terras). E por seus pontos de contradição, como a super exploração dos recursos naturais e sua insustentabilidade ambiental; a exploração de sua mão de obra; a primarização da pauta de exportação; a alta dependência de subsídios; a vulnerabilidade às oscilações do cenário internacional; os altos custos de produção e relações de troca com tendência negativa (custos de produção relacionados aos insumos, com histórico de crescimento e valores dos produtos com tendência a queda); os impactos do uso de agrotóxicos na sociedade como um todo e sua imagem, associada à degradação ambiental e violação de direitos humanos. Na Agricultura Familiar foram identificadas forças associadas a um ambiente mais saudável e sustentável; à capacidade de produção de alimentos saudáveis; à sua capilaridade; à forte relação com o universo da cultura popular; ao grande número de pessoas que vivem dessa atividade; à sua grande força política; à capacidade de formulação e pressão sobre o Estado; à existência de tecnologias adequadas às suas condições de produção; à valorização e visibilidade das mulheres na produção e comercialização; por estar associada ao bem viver e a um estilo mais justo, sustentável e solidário; à valorização e preservação de laços de solidariedade e boa convivência social; por favorecer a desconcentração das riquezas; por sua diversificação de mercados, fortalecendo dinâmicas locais e por sua diversidade social. Suas contradições se basearam em sua dispersão geográfica; na diversidade social; na baixa representatividade política nos governos e nos legislativos; nos poucos recursos destinados às políticas; às práticas produtivas associadas ao padrão tecnológico do agronegócio; ao marco legal e estrutura do Estado, incompatíveis com as necessidades de construção de um modelo sustentável; à cultura patriarcal; à pouca capacidade de comunicação com a sociedade; à imagem associada ao atraso e à ineficiência e à visão de que a agricultura familiar é incapaz de responder às grandes demandas da sociedade de produção, exportação e equilíbrio da balança comercial. Ao término do encontro Wiliiam Clementino avalia o encontro. “A riqueza dos debates e concepções nesse seminário foi imensa. Os próximos passos dependem, agora, de nossa disposição de lutar e fazer uma ação pela reforma agrária no Brasil”, fala o secretário de Política Agrícola da Contag. Juraci Souto, secretário de Organização e Formação da Contag, também presente, falou sobre a formação política e ideológica, necessária a quem vai fazer ações pela reforma agrária. “Vamos pensar uma forma de nossa escola (ENFOC) formar cidadãos com consciência e sabedoria política e ideológica para assumir a direção das associações dos assentamentos de reforma agrária e comissões que representam os trabalhadores (as) na luta pela terra”, anuncia. O seminário, de uma maneira geral, foi analisado de forma bastante positiva, destacadamente por sua metodologia participativa, capacidade de integração, sequencia de palestras, retomada das discussões sobre a reforma agrária, pela inter-relação da Contag com outros movimentos, pela forma de apresentação das experiências, participação dos assentados e pela diversidade de conteúdos. A fala da representante de um grupo que avaliou o significado do encontro resume bem o sentimento dos participantes: “Estávamos meio adormecidos e precisávamos dessa injeção de ânimo”.
FONTE: Imprensa Contag - Maria do Carmo de Andrade Lima