Em meio à crise política vivida no país, educadoras/es discutem práticas
libertárias contra o machismo.
No dia em que a primeira presidenta eleita do país é afastada do cargo por um golpe contra o Estado democrático e por ser mulher, agricultores e sindicalistas rurais da Bahia discutem gênero, patriarcado, divisão sexual do trabalho, feminismo e de que forma essas questões se entrelaçam na prática sindical de cada uma/um delas/es. As reflexões fizeram parte do penúltimo dia do 4º Curso Estadual da Escola Nacional de Formação da Contag (Enfoc) da Bahia, que acabou hoje (13), em Salvador.
Falas como a do agricultor Miguel Araújo, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Uibaí, região da Irecê, que mesmo com toda a formação machista recebida, afirmou que “nas bulas de batom não vem dizendo que o uso é proibido para homens”, questionamento como a da agricultora Elâine Carvalho Novais, do STTR de Quixabeira, região do Vale do Jacuípe, sobre o por quê do uso de “marido e mulher”. “Eu sou a mulher do meu marido. Mas ele não pode ser o meu homem. Por quê?” ou o desabafo da dona Eliene Batista, também agricultora familiar e dirigente do STTR de Itaguaçu da Bahia, região de Irecê em dizer que “na minha comunidade eu sou conhecida como mulher homem só porque eu vacino gado, ando a cavalo e resolvo a minha vida” evidenciou as inúmeras inquietações que o tema provoca. E que é preciso conversar mais.
Para a educadora popular Leidjane Baleeiro, facilitadora da discussão, são séculos de opressão e não dá para mudar tudo de uma vez só. “Depois de toda a nossa conversa não dá pra dizer que está tudo resolvido, porque não está. A vida das mulheres ainda continua muito difícil. Mas se a gente aprende a ser homem e a ser mulher de uma forma, podemos aprender a ser de outra”, desafia.
Durante a noite, o grupo participou do momento festivo com brincadeiras, concurso de forró e poesia. O primeiro módulo do 4º Curso Estadual da Enfoc da Bahia encerrou hoje (13) à tarde e os participantes voltam para suas regiões com a pergunta desafiadora do educador popular e Secretário de Política Agrária, Joaquim Francisco Neto, “se a gente não começar as mudanças quando a gente voltar para nosso sindicato, daqui a 15 anos vai estar tudo igual como está hoje”. O grupo volta a se reunir em julho, em Salvador, para o segundo módulo do curso.
FONTE: Rosely Arantes educadora e comunicadora popular