Lideranças da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (Fetagro) pediram aos órgãos competentes do governo federal proteção de vida ao presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Vilhena/Chupinguaia, Udo Wahlbrink. A solicitação foi feita, na última sexta-feira (17), aos representantes do Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos (SDH) e Ouvidoria Agrária para que a Polícia Federal assegure segurança e escolta ao sindicalista. O pedido é uma das prioridades da pauta de reinvidicações do 19º Grito da Terra Brasil, evento organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores (Contag), para pautar as demandas de políticas públicas para a área rural. No encontro, o vice-presidente e secretário de política agrária da Fetagro, Fábio Menezes relatou que nos últimos dias aumentaram as ameaças de morte ao Udo, feitas por fazendeiros envolvidos em conflitos agrários na região. Como a federação já esgotou todas as instâncias com pedidos de recursos na esfera estadual, “não resta alternativa a não recorrer ao governo federal”, disse o secretário. Fábio informou ainda que o aumento da violência contra trabalhadores rurais em Rondônia é assustador - no passado ano foram 12 assassinatos. De acordo com dados divulgados recentemente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rondônia superou pela primeira vez o Estado do Pará em número de mortes por disputa de terra. Essas mortes foram em maioria de integrantes de acampamentos que reivindicam terras. Houve também assassinatos de pessoas que denunciavam extração ilegal de madeira. Ele citou o caso de Seringueiras, município localizado próximo da fronteira com a Bolívia. Lá uma disputa por terra terminou com duas pessoas executadas, sendo que apenas uma era ligada ao movimento de luta pela terra. A outra pessoa foi vitimada por engano ao ser confundida com um líder que estava marcado para morrer. “Nós não podemos voltar para Rondônia sem garantia que esse problema terá uma solução”, disse Menezes. Udo Wahlbrink descreveu a dificuldade enfrentada por ele e pela família em decorrência das constantes ameaças. O sindicalista fez um histórico sobre o conflito, desde o início do enfrentamento, em 2010, quando ele passou a ser um dos alvos de empresários e fazendeiros do município. Em fevereiro de 2012 durante a reocupação da fazenda Dois Pinguins, um enfrentamento entre trabalhadores e funcionários da fazenda resultou em duas pessoas feridas, sendo um acampado e um pistoleiro. Por esse episódio, a Promotoria Pública de Vilhena o acusou de formação de quadrilha armada, cárcere privado, esbulho possessório, dano qualificado e lesão corporal qualificada, e de chefiar os acampamentos de sem-terra em ocupações de terra na região, mesmo sem ele ter participado, estado presente ou ter articulado essa reocupação. Wahlbrink citou ainda os oito meses em que esteve preso e a condenação a 10 anos e 06 meses de prisão por conta dessas acusações, que é uma tentativa de tratar como crime comum às disputas agrárias em Rondônia. Mas afirmou que irá recorrer até a última instância para provar sua inocência e defender os trabalhadores rurais sem terra. O sindicalista argumentou que é necessário proteger sua vida, e ressaltou que não é de fugir da luta e que também não está brincando de defender os direitos dos trabalhadores. Na audiência foi consenso entre os representantes do governo que o caso do sindicalista de Rondônia precisa de uma solução urgente. O representante do Ministério da justiça, Edmilson Pereira, disse que o assunto será pautado junto a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) para que a mesma possa abrir um diálogo com as secretarias estaduais que são responsáveis por acompanhar essas demandas. Ele ressaltou que o desafio a ser enfrentado requer ações globais, mas há urgência em algumas situações específicas e mais emblemáticas, como o caso do Udo. A pasta ficou de ver as condições relativas ao pedido de segurança e dar uma posição até a próxima quinta-feira, dia 23. O coordenador-geral do Programa de Proteção da SDH, Igor Martini disse que a secretaria tem “grande preocupação com a violência no campo”. Ele falou sobre a importância do trabalho feito pelo sindicalista rondoniense. “Nós queremos que o Udo continue atuando em defesa dos direitos humanos e precisamos que a Secretaria Estadual de Segurança Pública dê encaminhamentos concretos para implantarmos o Programa de Proteção aos Defensores Humanos em Rondonia.” Wahlbrink prestou depoimento e foi incluído na lista de defensores dos direitos humanos da SDH. A Fetagro aguarda uma definição antes o encerramento do Grito da Terra Brasil, previsto para quarta-feira, dia 22. Também participaram da audiência representantes dos deputados federais Anselmo de Jesus(PT/RO) e Padre Ton (PT/RO). FONTE: Leonice Leal - FETAGRO