Os participantes da XIV Reunião Especializada da Agricultura Familiar do Mercosul (Reaf), que ocorre até o dia 19, em Brasília, debateram nessa segunda-feira (15/11) sobre os desafios da agricultura familiar diante dos reflexos das mudanças climáticas. Iniciando as discussões, o pesquisador da Embrapa Luiz Adriano trouxe conceitos sobre efeito estufa, aquecimento global e a relação deles com as mudanças climáticas. Ele explicou que o aquecimento global deriva do efeito estufa e que os principais gases responsáveis por esse efeito são o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso. “Nossa preocupação deve ser imediata, uma vez que, se deixarmos de emitir esses gases poluentes hoje, ainda teremos mais 200 anos de reação do planeta decorrente da poluição que já foi lançada na atmosfera”, disse o pesquisador. Ainda segundo Luiz Adriano, mundialmente, esses gases (76% gás carbônico, 15% de metano, 4,8% nitroso) derivam da queima de combustíveis ou de qualquer tipo de produto concentrador de carbono. Um quarto provém de desmatamento e de mudanças no solo. No Brasil, excluindo os valores das emissões advindas do mau uso da terra e das queimadas, a posição no ranking mundial de poluentes é a sétima. No entanto, consideradas as duas modalidades, o país sobe para a quarta posição. Apesar da grande contribuição, o país vem desenvolvendo estratégias de enfrentamento do problema, de acordo com o pesquisador. “Neste governo já houve redução das taxas de desmatamento e, consequentemente, de emissões de gás carbônico. Isso se deu devido à vigilância e à fiscalização que fomentam esse controle”, disse. Luiz Adriano traçou três cenários diante do problema a ser enfrentado pela agricultura familiar. “As suposições são as seguintes: a agricultura pode ser vítima, comprometida pelo aumento de riscos; pode ser a vilã ou pode ser uma ameaça. O desafio é saber que papel ela quer desenvolver”. Já o representante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Edélcio Vigna, fez uma breve apresentação do Conselho e defendeu a segurança alimentar e nutricional como direito assegurado na Constituição Federal. Ele também se lembrou do trabalho do Consea com o desenvolvimento da soberania alimentar e culpou as mudanças climáticas por parte da desigualdade alimentar no mundo. “As mudanças climáticas contribuem para violar o direito à alimentação porque, a partir delas, aumentam os custos dos alimentos e diminui o acesso a alimentação. É o que chamamos de insegurança alimentar”, endossou. Ele também criticou o modelo de economia e produção que, em sua visão, está defasado. “A crise climática, assim como a crise econômica e alimentar estão vinculadas aos modelos decadentes de produção, de comercialização e de exploração existentes. Não dá mais para trabalhar esse modelo, porque ele inviabiliza a própria vida”. O Plano Nacional de Mudanças Climáticas, editado no ano passado, foi outro ponto lembrado pelo especialista. Segundo Edélcio Vigna, a norma, que saiu devido à pressão da sociedade, traz muitos avanços, mas também preocupações. “Avançamos no que diz respeito à substituição de combustíveis fósseis por fontes não poluidoras, mas quando falamos em substituir pelo agrocombustível, que é o etanol, há divisão dentro do próprio Consea, por se tratar de uma cadeia de produção poluidora, com carga de emissão muito grande. Sem contar que a plantação de cana no Brasil ainda é muito complicada. O governo está tentando fazer um zoneamento para conter o crescimento. Há também a violação do trabalho dos cortadores de cana, em que, para regulamentar a questão, se tenta manter um termo de compromisso com as usinas enfatiza. Ações de prevenção – O Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas na Agricultura foi um dos temas abordados pelo coordenador-geral de meio ambiente e mudanças climáticas do Ministério da Fazenda, Aloísio Melo. Ele recordou que, durante a 15ª Conferência da ONU sobre Clima (COP-15), no ano passado, poucos foram os países que assumiram algum compromisso com a redução dos gases poluentes, enquanto as maiores potências econômicas mundiais se recusaram a contribuir com um compromisso global. A exemplo do pesquisador da Embrapa, o especialista também salientou a preocupação do governo em relação ao problema. “Já há compromisso voluntário de ações de mitigação de emissão de gases, com redução de ate 36% a 39% até 2020. Também criamos, dentro do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, planos setoriais de desmatamento na Amazônia, no cerrado, além de geração alternativa de energia e novas tecnologias para a agricultura”. O pesquisador citou, ainda,subprogramas, como o de sistema de plantio direto, a expansão da fixação biológica de nitrogênio, respondendo à redução de gás carbônico, a recuperação de pastagens degradadas; a integração lavoura-pecuária-floresta, entre outros. Encerrando as apresentações das ações de governo, o secretário de agricultura familiar do MDA, Adoniran Sanches, discorreu sobre as ações públicas direcionadas à produção sustentável como o Pronaf Floresta, o Pronaf Sustentável e outros que foram pautas de organizações sociais, entre elas a Contag. “Essa é uma estratégia para mudança do modelo vigente de produção, que é poluente. O sistema mais agroecológico, orgânico é a tendência da agricultura familiar. O secretário refletiu ainda sobre os próximos desafios, que são a adoção do serviço ambiental, com melhor relação custo-benefício para o agricultor e o mercado externo, o maior investimento em ensino, pesquisa e extensão e expansão em Ater. Na sequência, diversas delegações também deram seus relatos e contribuíram com intercâmbio de informações acerca do tema. FONTE: Danielle Santos, Agência Contag de Notícias