Representantes da agricultura familiar de diversos países da América Latina e países convidados, membros da sociedade civil e governo estiveram presentes na abertura da XIV Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul. O evento começou nesta segunda-feira (15/11), em Brasília, e reúne participantes do Paraguai, Uruguai, Argentina, Filipinas, Costa Rica, México, Gana, Bolívia, Equador, Colômbia, Peru, Chile, El Salvador, Belize e Espanha, além do Brasil. O evento teve início com um seminário sobre a Organização Produtiva das Mulheres Rurais. Na oportunidade, a coordenadora da Secretaria Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, Miriam Nobre, abordou as dificuldades que o gênero tem de se inserir no mercado de trabalho, perante a dominação de um mercado patriarcal, sexista e concentrador de renda. A especialista aproveitou para criticar a organização da economia, que não contribui para a qualidade de vida das mulheres. “Quando se trata de cortes públicos, por exemplo, muitas vezes o Estado acaba com uma ação que beneficia a mulher e deixa somente para ela a responsabilidade”, disse. “Precisamos discutir como diminuir a sobrecarga de atividades domésticas e estabelecer mais ações de serviço público, como creche, escolas e outros”, definiu. A palestrante defendeu a inserção de políticas que fortaleçam as ações produtivas e se adequem às condições econômicas e sociais em que estão inseridas as mulheres. “Somente uma política diferenciada pode dar mais autonomia. Hoje, segundo dados recentes da Pesquisa Nacional de Domicílios (PNAD), observamos que 14% dos lares localizados no campo brasileiro são chefiados por mulheres. É preciso que haja acompanhamento das políticas públicas, levando em conta que a realidade não é a mesma de anos atrás”, completou. Representando o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a coordenadora do Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais, Patrícia Mourão, apresentou um mapeamento sobre economia solidária desenvolvido entre 2005 e 2007. Os dados, organizados pelo MDA em parceria com o Ministério do Trabalho, envolveram mais de um milhão de pessoas vinculadas a 21.800 empreendimentos localizados em 2.274 municípios brasileiros, dos quais apenas 9.402 são exclusivamente de mulheres. A dificuldade para acesso ao crédito e ao mercado também são desafios para o gênero. Segundo o levantamento do governo, 67% delas estão na informalidade. Em grupos mistos, formados por homens e mulheres, são predominantes atividades como a pecuária, a agricultura e a exploração florestal. Para este grupo, os canais de comercialização são mais amplos. Já em relação aos empreendimentos femininos, 61% estão voltados para trabalhos manuais e agricultura em pequena escala. Durante a comercialização, elas têm mais dificuldade em vender seus produtos, devido à alta informalidade. Por conta disso, a venda fica canalizada ao próprio município, sendo feita diretamente com o consumidor. Somente 11% das mulheres ouvidas tiveram acesso ao crédito no período referente ao levantamento. A falta de apoio para elaboração de projetos e de acesso aos meios de comunicação, como internet e telefone, também prejudicam os grupos femininos, observou Patrícia Mourão durante a apresentação dos dados. “Temos muitos desafios, como o de construir maior autonomia, superar as limitações em relação à disponibilidade em função dos cuidados das crianças e da interferência dos maridos. Essa participação da mulher no mercado de trabalho é uma conquista no âmbito da própria casa, porque muitas vezes é preciso ter permissão para ter autonomia econômica. Outro desafio é qualificar o processo de gestão, produção e comercialização e ampliar o acesso das mulheres a políticas públicas, como o crédito. Ter mais acesso a assistência técnica e diversificar a produção com maior valor agregado”, endossou a coordenadora do MDA. Interação – Durante o seminário, os participantes puderam interagir com as palestrantes e fizeram uma série de questionamentos acerca de violência doméstica, capacitação, lazer, educação, entre outros. A vice-presidente e secretaria de Relações Internacionais da Contag, Alessandra Lunas, também esteve presente na abertura. A sindicalista, que também é secretária-geral da Confederação da Organização dos Agricultores Familiares do Mercosul Ampliado (Coprofam), ela recordou um dos maiores desafios para as mulheres na atualidade: “Quando falamos de organização produtiva de mulheres, o maior desafio e a assistência técnica e extensão rural. Acredito que com um trabalho específico nesta área conseguiremos mais resultados”, defendeu. FONTE: Danielle Santos, Agência Contag de Notícias