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NOTA DA CONTAG
CONTAG avalia encaminhamentos da COP26
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19 de Novembro de 2021



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“Os governos do mundo perderam na COP26 uma grande oportunidade de discutir as questões climáticas, foram poucos os compromissos firmados, e estes, infelizmente, não devem ser cumpridos”.

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) foi realizada no período de 31 de outubro a 12 de novembro, na cidade de Glasgow, na Escócia. Cabe esclarecer que desde 1994, a Organização das Nações Unidas (ONU) reúne anualmente praticamente todos os países do planeta no evento denominado “Conferência das Partes” ou COPs.

Nestas reuniões são avaliados os avanços e entraves dos países na realização das ações que impactam negativa ou positivamente nas mudanças climáticas nos âmbitos econômico, ambiental e social. Assim, durante a realização de uma COP são determinados acordos e compromissos para redução da emissão dos gases que causam o efeito estufa, que aumentam a temperatura do planeta, e que, consequentemente, interferem no clima, podendo ocasionar processos de desertificação de terras férteis, inundações, furacões, diversas catástrofes e danos à vida no planeta.

O Sistema CONTAG acompanhou com atenção e preocupação a COP26 e a discussão na questão das mudanças climáticas, pois para a agricultura, de forma geral e em especial para a familiar, o aumento das temperaturas provoca a perda de safras bem como põe em risco a segurança alimentar do País e no mundo.

A agricultura familiar no Brasil produz 70% dos principais alimentos que chegam à mesa da população brasileira e é a oitava maior produtora de alimentos do planeta, e as mudanças climáticas ameaçam fortemente a produção agrícola, a preservação dos recursos. 75% dos recursos naturais do mundo são protegidos pela agricultura familiar segundo a ONU.

Um estudo feito pela Embrapa, em parceria com a Unicamp, demonstrou que se nada for feito para amenizar os efeitos das alterações do clima ou para adaptar as culturas às novas situações climáticas, os(as) agricultores(as) migrarão de uma área para outra em busca de condições mais adequadas para a produção agrícola de alguns plantios, mudando a geografia produtiva. A exemplo, a mandioca, necessária para a segurança alimentar em determinadas regiões do país, poderá desaparecer do Nordeste de onde hoje há produção em maior escala devido à mudança do clima e à falta de investimentos no desenvolvimento de novas tecnologias produtivas adaptáveis a essas variações da temperatura. Os efeitos das mudanças climáticas também afetam no mundo do emprego, como aponta a publicação “Trabalhar num planeta MAIS QUENTE - O impacto do stress térmico na produtividade do trabalho e no trabalho digno”, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Leia a publicação AQUI.

Para além da questão da produção de alimentos, tema implícito nas discussões da COP26, outras questões foram tratadas para que o planeta continue habitável e preservado. Contudo, o resultado do evento apresentado ao mundo, no dia 13/11, através do documento final da Conferência do Clima, trouxe muitas intenções, e alguns poucos compromissos. A impressão que fica é que as maiores lideranças mundiais decidiram adiar a tomada de decisão por medidas mais enérgicas e eficazes para proteger os recursos naturais agora e garantir condições de vida para as atuais e futuras gerações.

O Pacto climático feito em Glasgow contido na declaração final da COP26, em síntese, contém a promessa da redução dos gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global a um nível próximo a 1,5ºC até o fim do século, reduzindo em 30% os atuais níveis de emissão de metano na atmosfera, e zerar o desmatamento ilegal até 2030. Um pequeno avanço no texto final desta COP foi o compromisso da redução gradual da exploração de combustível fóssil, a exemplo do carvão, do petróleo e seus derivados (gasolina, querosene, óleo diesel, dentre outros).

Sobre o ponto acima citado, a CONTAG alerta que cabe considerar que o texto final da Conferência não avançou no compromisso de “eliminar” a utilização do combustível fóssil no mundo, limitando-se somente a “reduzir” o seu uso. Isso se deu uma vez que os interesses econômicos de países como Estados Unidos, China e Índia, que são fortemente dependentes deste tipo de combustível para alavancar suas economias, discordaram que se firmassem medidas que os abrigassem a deixar de usar de vez essa matriz energética altamente poluente (80% da emissão dos gases de efeito estufa estão ligadas a questão dos combustíveis fósseis), pois seria necessário investir e avançar na transição para uso amplo das energias renováveis, ainda pouco utilizadas frente ao seu potencial.

O Governo brasileiro esteve na COP26, sendo representado pelo Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite, liderando uma delegação oficial de 479 membros inscritos, mas com a ausência do Presidente Bolsonaro. Em Glasgow a intenção foi tentar mudar a imagem do país de “vilão” do meio ambiente, tarefa difícil visto a atual política ambiental de destruição aqui em curso. Ainda assim, o Governo apresentou as promessas de reduzir até 2030 as emissões dos gases de efeito estufa em 50% e do metano (gerado principalmente pela extração de petróleo) em 30%, e a eliminar o desmatamento ilegal até 2028, mas não deixou claro, na prática, como pretende cumprir as metas propostas. Cientistas apontam que o governo brasileiro, apresentou como nova meta, um inventário, de 2005, com emissões líquidas de 2,8 milhões de toneladas de CO². No mais recente, de 2,4 bilhões de toneladas de CO². Assim, o Brasil aumentará as emissões em 400 milhões de toneladas de CO² até 2030. Desta forma, são muitos os questionamentos em torno da base de cálculo usada pelo país. É o que hoje pode ser chamado de pedalada ambiental. O Brasil então deixa de ser um ator global estratégico e passa a ser um dos vilões mundiais do clima e do meio ambiente.

Em resumo, os governos do mundo perderam na COP26 uma grande oportunidade de discutir as questões climáticas, foram poucos os compromissos firmados, e estes, infelizmente, não devem ser cumpridos, sobretudo, pelos países que são os maiores poluidores (Estados Unidos, China, Rússia, Alemanha e Índia, e também o Brasil).

Como ponto positivo, apenas o protagonismo dos povos do campo, das florestas e das águas e da juventude ali presentes, em prol de um presente e futuro com menos impactos em relação a essas crises climáticas, denunciando os vilões do aquecimento global e anunciando que existe uma significativa parcela da sociedade civil organizada e decidida a manter-se mobilizada e compromissada pela preservação ambiental, contra o aquecimento global. Nós, trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares fazemos parte dessa luta.

Diretoria da CONTAG FONTE: Diretoria da CONTAG



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