A cultura do interior mineiro esteve bem representada na 6ª Edição da Feira da Agricultura Familiar de Minas Gerais (Agriminas), que lotou o espaço da Serraria Souza Pinto, no centro de Belo Horizonte, entre 18 e 21 de agosto. Quem passou pelo local, em algum dos quatro dias do evento, pôde conferir produtos procedentes diretamente do campo e que, além da qualidade, mostraram a diversidade e a força dos pequenos produtores do estado. Participaram 125 empreendimentos de diversas regiões produtoras e os mais representativos produtos da agricultura familiar e da culinária mineira.
Mesmo valorizada atualmente como um setor importante da agropecuária brasileira, a produção familiar ainda precisa de momentos como a Agriminas para que seja melhor percebida pela sociedade. “Todo o esforço e luta que o pequeno agricultor tem para se manter no campo e produzir precisava de um espaço de divulgação. Não basta falar, temos que mostrar esse trabalho para as pessoas e para o mercado”, argumenta Vilson Luiz da Silva , presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg), entidade promotora do evento. Ele conta que foi necessário construir, ao longo dos anos, essa consciência nos próprios produtores. A agricultura familiar era pensada apenas como de subsistência, mas, atualmente, o produtor já está se conscientizando de seu papel no abastecimento da população. “Os produtores perceberam que era possível ter muito mais que o sustento de suas famílias. A agricultura pode lhe trazer transporte, educação e cidadania”, afirma.
Ainda segundo o dirigente, Agriminas é bem mais que um momento para o agricultor vir e apresentar seu trabalho. “Além de ter seu produto valorizado, ele também recebe informação participando de palestras. É uma oportunidade para ele crescer”, ressalta. Apesar disso, ele considera que ainda existem muitos desafios. “Na agricultura ainda tem muita coisa para ser tratada. É necessário dividir a terra para que ela cumpra com sua função social e que o agricultor se profissionalize mais”, analisa.
Aproveitando o embalo dos bons resultados da 6º edição da feira, que teve entre 20% e 30% a mais de público e volume de negócios superior ao da última edição e aproximadamente quatro mil famílias envolvidas diretamente, o presidente da Fetaemg adiantou que pretende trabalhar para conseguir melhorar, cada vez mais, a feira. “O evento tende a ficar maior a cada ano. Além disso, em 2014, queremos aproveitar o momento da Copa para apresentar nossas riquezas aos mineiros e a quem visitar o país durante o evento”, confia. Por fim, ele enumera três pontos que considera importantes para que a valorização da agricultura familiar continue avançando: “Trabalhar, mostrar e ter ação”, conclui.
Palestras - Agriminas realizou várias palestras para os agricultores familiares presentes ao evento. O presidente do Conselho Nutricional de Segurança Alimentar de Minas Gerais (Consea-MG), Dom Mauro Morelli, falou sobre “A importância da agricultura familiar na segurança alimentar e nutricional no campo”. Na sua apresentação, ressaltou a importância que a agricultura familiar exerce na valorização das boas práticas e na segurança alimentar. “O conceito de agricultura familiar, onde a família produz para o seu próprio sustento, possibilita que o alimento seja cultivado com mais qualidade”, disse. Segundo o presidente do Consea-MG, um alimento com qualidade apresenta três características importantes. “O alimento deve ser saudável, com boas práticas em seu cultivo, desde a semente até momento de ser consumido. Deve ser adequado ao clima, ao momento e à idade de quem vai consumi-lo, e, por fim, deve ser solidário. A famílias devem reunir-se na alimentação e o consumo deve resultar em boas relações entre as pessoas” enumerou.
Selo - Eduardo Maia, chef e presidente da Conspiração Gastrônica, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), enfatizou a necessidade de todos os pequenos produtores se organizarem e começarem a dar mais valor a seus produtos. “Fora do Brasil as pessoas fazem questão de oferecer aos turistas seus produtos, suas riquezas de sabor”, conta. Ele aproveitou o momento para explicar como a Conspiração vai atuar na valorização dos agricultores e de seus produtos. “A Conspiração vai dar um selo indicando a qualidade do produto e, a partir daí, incentivar os restaurantes a usarem os produtos com esse selo. Com isso, o restaurante também recebe uma certificação', informou.
Nova legislação - A nova lei para habilitação sanitária dos empreendimentos agroindustriais rurais de pequeno porte foi apresentada aos agricultores pela coordenadora de Agregação de Valor e Geração de Renda da Secretaria de Agricultura de Minas, Ana Helena Junqueira Cunha. O objetivo da palestra foi mostrar aos produtores familiares as conquistas que a regulamentação da Lei 19.476/11 vai proporcionar. “Até então, as leis em vigor no país não contemplavam as pequenas agroindústrias rurais de pequeno porte, dificultando sua formalização e adequação sanitária, devido aos altos custos de implantação”, disse. “A nova legislação sanitária possibilitará a esses empreendimentos saírem da informalidade e ampliarem o mercado”. Também na grade de palestras, o presidente da Fetaemg, Vilson Luiz da Silva, falou sobre “Agricultura familiar na produção de alimentos para a Alimentação Escolar saudável” e Wylton Antônio Verçosa, da Secretaria de Estado da Fazenda, sobre “ Legislação tributária para os produtos da agricultura familiar no estado de Minas Gerais.”
Confira o que disseram expositores que participaram da feira; “Trouxemos cerca de 500 peças de queijos e vendemos tudo antes mesmo da feira da acabar. Vendemos provolone tradicional, com ervas e temperado, além da muçarela. O queijo Minas frescal foi o mais pedido e acabou no segundo dia. Foi excelente a participação na Agriminas. Já estamos nos preparando para o ano que vem.” Rita de Cássia Santos, Laticínio Dom de Minas, de Pains. “Foi a primeira vez que participamos e gostamos muito. Conseguimos vender todo o nosso estoque de cabaça. Foram cerca de 4000 unidades. O mais bacana da Agriminas foram as amizades que eu fiz. Além disso, a feira ajuda muito na divulgação da agricultura familiar.” Itamar Marques de Oliveira, Assentamento XV de Novembro, de Paracatu. “Essa já é a quinta edição da Agriminas que eu participo. Estou aqui desde a primeira edição. Apenas uma vez que não foi possível estar presente. Nós temos a intenção de apresentar nosso queijo fora do país e a feira é muito importante para divulgar e perceber se o produto tem a aprovação do público. E o resultado foi bom. Vendemos aproximadamente 230 peças de queijo.” João José de Melo, Queijo Serra do Salitre, de Serra do Salitre. “Ficamos bastante satisfeitos com a participação aqui na Agriminas. A feira teve muito movimento e foi importante para expandirmos nossa marca. Trouxemos para Minas o queijo curtido no vinho, que é uma novidade, além do queijo temperado com salame. A experiência foi muito boa. Pretendemos voltar para ampliar esse intercâmbio de cultura entre Minas e o Rio Grande do Sul.” Patrícia Seibel, Laticínio Seibel, de Tupanciretã/RS “Inicialmente, eu achei que não ia decolar, mas foi surpreendente a participação e o sucesso dos nossos produtos. Nosso interesse aqui na Agriminas foi manter a tradição, divulgar os doces tradicionais da forma como minha mãe fazia. A intenção nem era tanto vender, mas vendemos praticamente tudo o que trouxemos. Pretendemos voltar na próxima edição, com certeza”. Ana Maria Martins, Rancho Paraíso, de Itaguara. FONTE: Comunicação da Fetaemg