Agricultores do sudoeste baiano intensificaram nos últimos dias os preparativos para tentar, na volta das chuvas, recuperar as perdas decorrentes de quase oito meses de estiagem.
Nas primeiras horas da manhã de domingo, a reportagem da Agência Brasil conversou com vários deles na zona rural de Urandi, município de 16 mil habitantes próximo à divisa com o norte de Minas Gerais, a 755 quilômetros de Salvador.
Manoel Nepomuceno atravessou cerca de 200 metros de pasto seco para atender a equipe e pediu que observássemos bem a situação da terra.
"Olha a privação que esse gado sofre. Só tá as maravaias [capoeira], não tem um pé de capim", resumiu. Segundo ele, é o benefício da aposentadoria que garante o sustento dele e da mulher - os sete filhos já foram embora para outras cidades, a maioria para o corte de cana no interior de São Paulo - mas "não pode deixar a fazenda acabar".
Para isso, Manoel está replantando as mudas, esperançoso de que em algumas semanas volte a existir um pasto de verdade. "Se chover bem, vamos ver se o gado engorda e ganha saúde".
Duas curvas adiante, Edgar Souza Carvalho, 32 anos, fez dois poços desde o ano passado para armazenar água das chuvas. No início deste ano, segundo ele, não encheram nem pela metade e agora ainda estão completamente secos, apesar das primeiras gotas caídas do céu. Para evitar a morte de animais , ele diz ter aumentado a ração, com caroço de algodão e silagem. Está replantando feijão e sorgo.
A única planta que desponta nas margens da estrada vicinal é a palma, presente em quase todas as propriedades, grandes ou pequenas. A folha é serrada e usada para alimentar o gado. "Com pouca chuva ela cresce e não morre", explicou Ismael Oliveira Santos, 58 anos, há 32 na região.
Oliveira diz ter perdido toda a última plantação de feijão e sorgo: " Plantei 25 litros de feijão e peguei só duas cozinhadas".
O experiente agricultor recordou que as chuvas diminuem ano a ano e que o algodão sequeiro já rendeu tempos áureos na região, mas hoje não compensa mais, com a arroba a R$13,00. Os três filhos, crescidos, seguiram o destino da maioria dos jovens da região e migraram. Segundo Oliveira, a dificuldade de encontrar pessoas de menos idade por ali não se deve só ao fato de não acharem dois ou três dias de serviço por semana.
"Hoje eles só estão atrás de emprego [ na cidade]. São poucos [os jovens] que querem enfrentar o pesado [no campo]. Os que ficam, são os aposentados, que sustentam mais".
Numa comunidade mais alguns quilômetros distante da sede do município, que ficou na dependência de carros-pipa por não ter água encanada, Luzia Oliveira, 45 anos, reclamou que os caminhões só passaram antes da eleição e deixaram três tambores de 200 litros para cozinhar, beber e tomar banho.
Apesar do desamparo alegado, ele diz que não perde a esperança de um futuro melhor e exalta como "benção de Deus" os R$ 82 recebidos mensalmente do Bolsa Família. "Paga o talão de luz, uma coisinha pra comer e remédios". FONTE: Agência Brasil