No próximo domingo, 17 de abril, completará 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. Foram 19 trabalhadores rurais assassinados, centenas ficaram feridos, 69 mutilados e alguns desaparecidos. Na época, a CONTAG registrou tudo no jornal “Trabalhador Rural”, edição de abril/maio de 1996.
Centenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra, posseiros da fazenda Macaxeira, foram encurralados na rodovia PA-150, em Eldorado dos Carajás, sul do Pará, por dois grupamentos da Polícia Militar (um procedente de Marabá e outro de Parauapebas). O Pará era governado por Almirante Gabriel, do PSDB, que atuou junto com o comando da PM. Mais de 200 soldados da Polícia Militar chegaram atirando bombas com gás lacrimogênio e os trabalhadores revidaram jogando pedras, foices, facões e paus. A resposta policial foi imediata: deixaram de atirar para cima e começaram a metralhar os trabalhadores. O saldo desse embate já foi um massacre.
Uma hora antes do massacre, os comandantes da PM haviam afirmado que chegariam vários ônibus para levar os líderes do movimento até Marabá, onde seria negociada uma solução para o assentamento das 2.500 famílias que, há quase dois anos, ocupavam a fazenda Macaxeira, cujo acampamento era coordenado pelo MST.
O secretário de Políticas Sociais da CONTAG na época, Airton Faleiro, na manhã seguinte ao crime, chegou a Eldorado dos Carajás. “Considero que foi um dos piores episódios que aconteceu no País nos últimos anos. A imagem que ficou do acampamento foi a de uma cidade bombardeada, que perdeu a sua direção”, disse Faleiro em depoimento ao jornal Trabalhador Rural.
Na época, o dirigente da CONTAG também afirmou que não tinha dúvida de que o massacre foi premeditado. “Premeditado pelo latifúndio paraense, que pressionou o governo do estado para tomar uma posição. Também foi premeditado do ponto de vista da autorização do governador para retirar os trabalhadores da rodovia. E premeditado pela Polícia Militar, que executou o massacre. Não havia necessidade de acontecer o que aconteceu”, denunciou.
Era possível encontrar uma solução para desobstruir a estrada e efetivar o assentamento daquelas famílias na terra. “A situação dos trabalhadores era de desespero. Eles não tinham mais a quem recorrer. E estavam fazendo uma ação garantida pela Constituição: uma manifestação em busca da terra, em busca da alimentação para se manter”.
Por todo esse acontecimento, por toda essa violência contra trabalhadores e trabalhadoras rurais é que 17 de abril é o Dia Internacional de Luta pela Reforma Agrária. A data foi escolhida em homenagem aos trabalhadores rurais mortos vítimas do Massacre de Eldorado de Carajás, no ano de 1996, fato que ganhou repercussão internacional. E a CONTAG, mais uma vez, presta a sua solidariedade às famílias dos trabalhadores assassinados e aos companheiros e companheiras do MST.
Apesar da impunidade deste e de outros crimes envolvendo os trabalhadores e trabalhadoras rurais, principalmente os que lutam pela terra, o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (CONTAG, FETAGs e STTRs) mantém a reforma agrária como uma das suas principais bandeiras de luta e como um dos pilares do seu Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS).
A CONTAG aproveita esta data para homenagear os milhares de homens e mulheres do campo que aguardam há anos, debaixo da lona, a sua terra para produzir e morar, bem como os que já conquistaram e que contribuem para a dinamização do meio rural, a garantia de alimentos saudáveis para o País e o desenvolvimento do campo brasileiro.
Reforma Agrária Já! FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG - Verônica Tozzi, com informações do jornal Trabalhador Rural