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ENTREVISTA
UITA conversa com o vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da CONTAG, Willian Clementino, sobre a fundação da CONTAR
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06 de Novembro de 2015


Arquivo CONTAG
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entrevista

Com Willian Clementino, vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da CONTAG

“Há que construir consciência social sobre a origem dos alimentos”

O vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Willian Clementino, celebrou a realização do primeiro Congresso de Assalariados e Assalariadas Rurais e fundação da CONTAR.

Em diálogo com a Rel-UITA, Willian, analisou também a necessidade de uma mudança de modelo de produção e, sobretudo, uma mudança cultural no modo de consumo dos alimentos.

UITA-Como avalia este primeiro Congresso e a criação da Confederação Nacional de Trabalhadores Assalariados e Assalariados Rurais (CONTAR)?

Willian Clementino- Minha avaliação é muito positiva porque constituímos uma organização de alcance nacional que velará pelos interesses dos assalariados e assalariadas rurais, e que vai além da defesa dos direitos laborais.

A CONTAR tentará fomentar políticas públicas que melhorem não só as condições salariais deste coletivo, mas também, seu acesso aos sistemas de educação e saúde de boa qualidade.

Estas duas áreas são as mais precárias, portanto as que devemos prestar mais atenção. Considero também que a CONTAR terá que mediar a relação entre os trabalhadores e trabalhadoras rurais e agricultores e agricultoras familiares com os demais segmentos da sociedade.

UITA-Seria um erro manter a organização dos trabalhadores rurais isolada do resto dos coletivos e setores da produção?

Willian Clementino- Sim, seria um erro. Desde a criação da CONTAG estamos juntos aos assalariados e assalariadas rurais e aos agricultores e agricultoras familiares. A nova conjuntura parece estar nos separando, na realidade está fortalecendo o trabalho em comum.

CONTAR será uma grande Confederação que se somará à causa da CONTAG.

UITA- A Conferência Nacional sobre Segurança Alimentar também aparece como um eixo importante?

Willian Clementino- Sim. Este espaço é aberto à sociedade civil para reflexionar sobre a alimentação dos brasileiros e brasileiras sob o lema “Comida de verdade, no campo e na cidade”.

É um lema com o qual, eu pessoalmente, discordo. Na verdade, o que o Brasil e o mundo demandam não é “comida de verdade” senão uma alimentação de qualidade, nutritiva.

De todas as formas é muito importante o conteúdo e a estratégia de debate desta conferência, organizada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), entidade muito respeitada pela relevância das suas políticas e pelo exemplo que é para outras organizações dentro e fora do Brasil.

Um modelo inviável a longo prazo

UITA- Os agricultores e os camponeses terão que rever a utilização dos venenos que muitos chamam agroquímicos e que, sem dúvida, são altamente prejudiciais para a saúde humana e da terra e cursos d’água.

Willian Clementino- Devemos considerar, obviamente, que os agricultores e agricultoras familiares ou os pequenos agricultores e agricultoras que utilizam agrotóxicos têm sido pressionados para fazê-lo. Existe uma grande pressão do próprio setor agrícola e até do Estado para que se incremente a produção a qualquer custo.

Os programas estatais como o Pronaf, que supostamente promovem o desenvolvimento da agricultura familiar, também com os créditos que proporcionam, marcam como, quando e onde devem os agricultores e agricultoras comprar os insumos para o cultivo.

Isso é lamentável, porque os agricultores perdem soberania

O impacto deste modelo é muito negativo para a saúde, para o ambiente, entre outras coisas. Existem dados de que cada brasileiro consome em média cinco litros de agrotóxicos por ano.

O índice de doentes de câncer é altíssimo, mas não se fazem pesquisas sobre o tema porque as grandes corporações do agronegócio incidem diretamente pela pressão financeira para que se mantenha a ignorância sobre o tema.

Selo de qualidade

Aprender a diferenciar o bom do ruim

UITA- O vínculo na relação entre a cidade e o campo pode ser o consumo de alimentos saudáveis?

Willian Clementino- Sem dúvida. É necessário dialogar e pôr sobre o tapete este assunto. Sobretudo com a população urbana, é preciso conhecer quem produz os alimentos e em quais condições isto é realizado.

Atualmente, estamos lutando para que a produção da agricultura familiar tenha um selo diferenciado, para que os consumidores saibam que atrás desse alimento existe um modelo de produção que respeita o meio ambiente e as relações laborais diferenciadas, o conjunto da família, que produz os alimentos sob certos padrões de qualidade, e de forma coletiva.

Temos que construir consciência social sobre a origem dos alimentos, começando com as crianças.

Já é tempo de começar esta reconstrução.

FONTE: Secretário Regional da América Latina da UITA, Gerardo Iglesias com revisão da Assessoria de Comunicação da CONTAG- Barack Fernandes



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