Um dos principais líderes dos madeireiros do Pará, Luiz Carlos Tremonte, presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Sudoeste do Pará, diz que os governos federal e estadual transformaram o setor em "bode expiatório" nas ações contra o desmatamento.
"A população de Tailândia passa fome e o governo não libera o manejo florestal. Isso é um problema social, que prejudica toda a atividade econômica. Essas ações vão provocar revoltas. Vai morrer gente, como em Eldorado do Carajás", diz, ao citar o conflito ocorrido em 1996, no qual a PM matou 19 trabalhadores sem terra.
Para ele, a tensão observada em Tailândia, há duas semanas, quando a população entrou em confronto com a polícia, é comum no Pará. "A demora em regularizar o manejo empurra o setor para a ilegalidade."
Para Tremonte, o governo é "incompetente" para coibir o desmatamento e elegeu madeireiros como "inimigos" por não ter coragem de combater atividades como pecuária e agricultura, que, segundo ele, fazem lobby forte no Congresso.
Ele critica o acordo feito entre o governo do Pará e o Ibama, que permite ao órgão leiloar a madeira apreendida durante as ações-termo que é contestado por madeireiras na Justiça. "Daqui a pouco vão começar a apreender e leiloar cocaína para financiar as ações de fiscais. Isso não é coisa séria."
Para o presidente em exercício do Sindicato das Indústrias Madeireiras de Tailândia, João Batista Medeiros, "o governo permitiu o descontrole e, de repente, após o anúncio sobre desmatamento e o terrorismo sobre isso, resolveu fiscalizar". Ele diz que falta rapidez na liberação dos planos de manejo florestal pela Secretaria do Meio Ambiente do Pará.
O presidente do Ibama, Bazileu Margarido Neto, afirma que o governo atua onde foi constatado o maior desmatamento nos últimos anos. "Nossa atuação ocorre em diversas frentes, e não apenas contra madeireiras." Ele lembra que Tailândia é considerada pelo Ministério da Justiça o sétimo município mais violento do país.
Para o secretário de Meio Ambiente do Pará, Valmir Ortega, os madeireiros "querem justificar o injustificável". "Pode ser que tenha havido omissão por parte do governo durante um período, porque não enfrentou o problema com a força necessária. Mas estamos trabalhando pelo ordenamento territorial. Os índices de desmatamento nos últimos anos foram alimentados por uma indústria que viveu e se consolidou dessa ilegalidade."
(MATHEUS PICHONELLI E FÁBIO GUIBU) FONTE: Folha de São Paulo ? SP