Pesquisa da UnB mostra que substância protege as plantas. Além de reduzir o uso de agrotóxicos, evita danos ao meio ambiente
Uma substância usada como fertilizante, o silício, pode ser a chave para reduzir o emprego de agrotóxicos na cultura do tomate, além de ser menos nocivo ao meio ambiente e à saúde humana. É o que mostra a dissertação de mestrado da agrônoma Marília Cristina dos Santos, defendida na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), sob orientação da professora Ana Maria Resende Junqueira.
Marília testou o produto em quatro concentrações diferentes e, em todas elas, os resultados foram positivos. "A maior eficiência ocorreu com o uso de 8 kg por hectare, diminuindo em 40% a incidência da traça-do-tomateiro", conta. Também foram analisadas as doses de 2 kg, 4 kg e 6 kg por hectare. Ainda assim, a menor dose apresentou 30% de redução nos danos causados pela traça.
Segundo a pesquisadora, atualmente doutoranda em Agronomia na UnB, os efeitos do silício para adubação já eram conhecidos, mas sua atuação como protetor de planta para o tomate é novidade, com a vantagem de estar livre dos problemas causados pelo uso de agrotóxicos. O estudo deve auxiliar no combate à traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), praga muito comum em lavouras de tomate, responsável por quebras de até 100% na produção.
Apesar dos poucos milímetros de comprimento, o inseto é capaz de grandes estragos na lavoura. "A traça se alimenta da parte interna das folhas, construindo galerias chamadas de minas. A planta não consegue realizar fotossíntese e a produção fica comprometida", explica Marília. A larva da traça também ataca caule e frutos, comprometendo toda a planta.
Para proteger o vegetal, a pesquisa coloca em prática uma idéia simples. O silício, que é borrifado sobre a planta, deposita-se no vegetal e funciona como uma barreira física às larvas da traça, em função das inúmeras partículas de quartzo presentes no produto. Marília e Ana Maria ainda buscam explicações sobre os detalhes desse processo, mas acreditam que a larva sofra ferimentos em seu aparelho bucal ao tentar se alimentar da planta. Assim, morre de fome.
Fábricas - O estudo analisou genótipos de tomate industrial usados pelas indústrias, um setor que utiliza 1/3 de todo o tomate colhido no País, movimenta mais de R$ 1 bilhão por ano e tem no estado de Goiás o maior produtor, com 600 mil toneladas colhidas na safra de 2007. Nas fábricas, os frutos de tomate se transformam em molho, extrato, suco e ketchup.
Para a agrônoma, o silício, pode vir a reduzir o uso de inseticidas nas lavouras de tomate e, consequentemente, reduzir os custos de produção, auxiliando no crescimento econômico dessas empresas. "Como todo produto feito em larga escala, os preços dos derivados do tomate são muito influenciados pelos preços dos insumos no mercado internacional. Por isso, a tecnologia de produção deve buscar competitividade, reduzindo os custos e elevando a produtividade", afirma Marília.
Benefícios - Por ser encontrado na natureza, o silício não apresentaria os mesmos problemas causados pelos inseticidas. Um dos benefícios de maior apelo para o consumidor seria a redução no uso de agrotóxicos, que utilizados em excesso e incorretamente podem prejudicar a saúde. Outra vantagem refere-se ao meio ambiente. "Os agrotóxicos são substâncias tóxicas e podem contaminar o solo, o lençol freático, a fauna, a flora e os seres humanos, bem como as pessoas que os aplicam e aqueles que se alimentam de produtos tratados por eles", afirma Ana Maria.
Marília explica que o silício usado nos testes foi obtido de resíduos de atividades siderúrgicas, depois de terem passado por um processo para retirada da toxidez. Ou seja, o material é reciclado. As pesquisadoras ressaltam que ainda são necessários novos estudos para se chegar à dose ideal para controle da traça. Esclarecem que, no momento, o silício pode auxiliar na redução do uso de inseticidas e que o produto não irá eliminar o uso dos agrotóxicos, uma vez que há outras pragas e doenças a serem controladas, para as quais o material ainda precisa ser testado.
Para uso futuro também será necessário o aperfeiçoamento do modo de pulverização, considerando que as partículas do silício são grossas para a estrutura dos aparelhos utilizados atualmente. No mínimo, os resultados abrem um campo de pesquisas a ser explorado. "A busca por produtos alternativos é cada vez maior. Vale a pena continuar pesquisando e verificando a possibilidade de uso", diz Ana Maria FONTE: Comunicação da UnB