Pela primeira vez em 25 anos, Rondônia superou o Pará em número de mortes por disputa de terra. Foram nove casos em 2012, contra dois no ano anterior --aumento de 350%. Os números da violência no campo em 2012 integram um balanço preliminar e inédito da CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço agrário da Igreja Católica no Brasil. Em todo o país, segundo a comissão, houve 36 homicídios em 2012 em conflitos agrários --avanço de 24% em relação aos 29 casos de 2011. O Pará registrou seis mortes por disputa agrária em 2012, um dos números mais baixos desde o início dos registros da CPT, em 1985. Apenas em 1986 o Estado não liderou a estatística da violência no campo, perdendo naquele ano para Mato Grosso. Em Rondônia, especialistas relacionam a violência a três fatores: expansão do agronegócio no sul do Estado (divisa com MT), presença de madeireiros no norte (divisa com AM) e, principalmente, grilagem (apropriação indevida de terras públicas). As mortes no Estado foram sobretudo de integrantes de acampamentos que reivindicam terras. Houve também assassinatos de pessoas que denunciavam extração ilegal de madeira. Em Seringueiras, leste do Estado, região da fronteira com a Bolívia, uma disputa por terra terminou com dois mortos: um líder de acampamento e uma pessoa confundida com ele, segundo a CPT. Um grupo de cerca de 80 famílias invadiu em 2010 uma fazenda na região, montando o acampamento Paulo Freire 3, pressionando pela desapropriação da área. Isso criou uma situação de tensão. Em maio de 2012, um agricultor foi morto a tiros na rodoviária de Seringueiras. Segundo a CPT, ele foi confundido com um líder do acampamento. Em setembro, as famílias foram expulsas da fazenda após ordem da Justiça. Dois meses depois, um dos líderes do grupo foi morto. Para Gercino da Silva Filho, da Ouvidoria Agrária Nacional (ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário), uma das causas das disputas no Estado é a grilagem. "Rondônia tem muita terra pública federal e muita grilagem." Ele diz ainda que falta infraestrutura policial ao Estado para investigar e punir os crimes agrários. Os dados da ouvidoria diferem dos registros da CPT. O órgão registrou 11 mortes em 2012 relacionadas a disputas fundiárias e 11 em 2011. Segundo o ouvidor, a CPT contabiliza qualquer morte no campo, incluindo casos sem motivação agrária, enquanto o governo computa só os homicídios em conflitos. Procurado para comentar os números, o governo de Rondônia não respondeu. FONTE: Folha de São Paulo - Aguirre Talento