O educador popular latino-americano e presidente do Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe (Ceaal), Oscar Jara, lançou o livro “A Sistematização de Experiências, Prática e Teoria para outros Mundos Possíveis” na noite desta terça-feira, 29 de outubro, no auditório Margarida Maria Alves, na ENFOC/ CONTAG. Na ocasião, também fez uma palestra sobre “Desafios e Perspectivas dos Movimentos Sociais da América Latina face aos governos democráticos e populares”.
Fotos: César Ramos
O evento contou com a presença da diretoria e assessoria da CONTAG, de conselheiros fiscais da Confederação e das Federações, de jovens rurais do Brasil e de oito países da América Latina, além de educadores(as) populares e demais convidados. O ato de lançamento do livro também contou com a presença de Gerardo Iglesias, diretor regional da UITA, da doutora e educadora popular Elza Falkembach, do educador popular e representante da Secretaria Geral da Presidência da República Pedro Pontual.
Ao abrir as falas, Juraci Moreira Souto, secretário de Formação e Organização Sindical da CONTAG, destacou a importância do lançamento deste livro. “Esse é um momento que nos emociona muito, é um momento especial, do registro de experiências vivenciadas por nós mesmos.” O dirigente também abriu a reflexão sobre os desafios e perspectivas dos países latinos, já que no próximo ano vários países latino-americanos passarão por eleições, momento que desafia a todos. “Queremos fazer uma reflexão de que a eleição seja um momento de fortalecimento da democracia e não só de eleger candidato. Na próxima eleição estarão em disputa dois projetos de desenvolvimento. No caso do Brasil, que não é diferente dos outros países, de um lado está a agricultura familiar, representada por um projeto democrático e popular, e do outro lado está o projeto representado pelo agronegócio.”
Gerardo Iglesias, fez referência à parceria da UITA na tradução do livro para a língua portuguesa e a algumas pesquisas realizadas. Uma dela aponta que 60% dos estudantes em Honduras não sabem diferenciar o que é democracia de ditadura. O dirigente também destacou o atual cenário político brasileiro quanto à proposta de regulamentação da PEC 57-A, que a CONTAG e UITA são contrárias. “O Brasil quer abolir a escravidão sem combatê-la. Estamos nessa luta junto à CONTAG.”
Diálogo com Oscar Jara Oscar Jara proporcionou um ótimo momento a todos os participantes ao fazer uma exposição sobre os Desafios e Perspectivas dos Movimentos Sociais da América Latina face aos governos democráticos e populares. “A principal ideia é que temos que acreditar na possibilidade de mudança para que a mudança seja possível. Surgem novas vozes na América Latina que lutam pela terra, educação, saúde, alimentação, direitos sexuais e reprodutivos, pelo direito de falar e pelo direito de ser feliz.” O autor destacou três fenômenos na América Latina: a importância de manter a autonomia dos movimentos sociais, a articulação com outros movimentos, e ir além dos espaços nacionais para um olhar latinoamericano. “Temos que construir laços estratégicos que permitam chegar ao núcleo dos problemas sociais. Temos um lado um projeto que degrada o meio ambiente, que visa o lucro e a lei de mercado. Do outro lado temos o modelo solidário, que respeita as pessoas e o meio ambiente.”
Oscar Jara também destacou a importância do olhar para as práticas e teorias dos movimentos sociais. “Essa vontade de ter acesso ao saber é fundamental. Que as nossas inquietações não sejam facilmente respondidas, é importante ter o diálogo, a troca de experiências. Esse é o objetivo da sistematização de experiências. Nesta noite tenho o orgulho de compartilhar algo que não é meu, é resultado de todo um processo. Esta é uma obra coletiva. Espero que seja muito útil para o trabalho de vocês e para o mundo que pretendemos construir”, disse o autor.
Pedro Pontual, que fez o prefácio do livro, falou um pouco sobre os desafios dos movimentos sociais, principalmente em 2014, que será um ano eleitoral em vários países latinos. “Só vamos conseguir alguma mudança a partir da pressão e do diálogo. Só com tensão podemos enfrentar o inimigo maior que é o agronegócio.” Quanto ao livro, Pedro disse que não se faz sistematização de fora para dentro. “Quem sistematiza são os que fazem, os responsáveis pela prática. O processo de sistematização pode ampliar a potência da nossa ação, fortalece a nossa identidade. A sistematização de experiências também permite a democratização da gestão de instituições.”
“Vejo este momento como um marco na vida da CONTAG”, reconhece Elza Falkembach. A educadora também destacou o atual momento de mobilizações no Brasil e em outros países, as demandas da classe trabalhadora e a importância da CONTAG nos seus 50 anos de história, além do importante papel da ENFOC na transformação política.
O evento contou, ainda, com um depoimento de Maria Alves, diretora da FETAEMG e educadora popular. “Foi importante participar da sistematização do livro Multiplicação Criativa e agora desse também. O primeiro me possibilitou escrever sobre o que eu acreditava. Que eu sou uma pessoa como as outras, mas também que sou especial. Descrever os cursos da ENFOC era escrever o sentimento de todos que passaram pelos cursos.”
Oscar Jara encerrou o evento tocando e cantando o hino da sistematização, emocionando a todos.
FONTE: Imprensa CONTAG - Verônica Tozzi