Hoje (08 de agosto de 2020), a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) e várias organizações do campo brasileiro, se despendem de Dom Pedro Casaldáliga, Bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), que morreu aos 92 anos, em Batatais (SP), devido a problemas respiratórios.
Dom Pedro Casaldáliga nasceu na Espanha em 1928 e se mudou para o Brasil aos 40 anos, onde ficou conhecido pelo seu trabalho pastoral ligado à teologia da libertação e por suas posições políticas em defesa da democracia e dos pobres, e no combate ao latifúndio e à violência no campo. "O capitalismo é um pecado capital. O socialismo pode ser uma virtude cardeal: somos irmãos e irmãs, a terra é para todos e, como repetia Jesus de Nazaré, não se pode servir a dois senhores, e o outro senhor é precisamente o capital. Quando o capital é neoliberal, de lucro onímodo, de mercado total, de exclusão de imensas maiorias, então o pecado capital é abertamente mortal, dizia Dom Pedro Casaldáliga.
Dom Pedro Casaldáliga fez da sua vida religiosa uma missão pela: evangelização sem colonialismos, vinculada à promoção humana e à defesa dos direitos humanos dos mais pobres; criação de comunidades eclesiais de base com líderes que sejam fermento entre os pobres; encarnação na vida, nas lutas e esperanças do povo; e estrutura participativa, corresponsável e democrática na diocese.
Intitulado O Bispo da Reforma Agrária, Dom Pedro Casaldáliga foi um dos maiores defensores da reforma agrária no Brasil e dos agricultores e agricultoras familiares, dos indígenas, dos quilombolas, sem terra e ribeirinhos. Razão pela qual passou boa parte da vida marcado para morrer por grileiros, madeireiros, garimpeiros e empresários do agronegócio. Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos, escreveu Dom Pedro Casaldáliga em uma das suas obras.
Dom Pedro Casaldáliga (Foto de CEBs do Brasil)
O bispo foi alvo por cinco vezes de processos de expulsão do Brasil, durante a ditadura militar. Em 1994 apoiou a revolta de Chiapas, no México, afirmando que quando o povo pega em armas deve ser respeitado e compreendido. Em 1999 publicou a "Declaração de Amor à Revolução Total de Cuba. No ano 2000, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Campinas. Em 13 de setembro de 2012, recebeu honraria idêntica da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
No ano passado (2019), Dom Pedro assinou uma carta com outros 154 bispos, arcebispos e bispos eméritos da Igreja Católica, discorrendo críticas ao atual governo federal. No documento foi destacado que o governo é apático, omisso, além de incapacidade para enfrentar crises.
Dom Pedro Casaldáliga carregava sempre na sua mão o Anel de Tucum, símbolo de fé e compromisso com causas dos mais pobres e abandonados. Anel de Tucum é sinal da aliança com a causa indígena e com as causas populares. Quem carrega esse anel significa que assumiu essas causas. E, as suas consequências, citou Dom Pedro Casaldáliga, no filme Anel de Tucum.
Seguindo o exemplo do bispo, o anel de tucum é o mais importante símbolo que marca a conclusão dos cursos da Escola Nacional de Formação da CONTAG (ENFOC).
Dom Pedro Casaldáliga parte deixando uma lacuna irreparável e um legado de exemplos de luta pelos povos do campo, da floresta e das águas, pelos mais pobres e desassistidos do Brasil e da América Latina. No final do meu caminho me dirão: E tu, viveste? Amaste? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes (D. Pedro Casaldáliga).
Viva aos ideais de Dom Pedro Casaldáliga!
Seguiremos na Luta pela Reforma Agrária, pela Democracia e pelos povos do campo!
FONTE: Direção da CONTAG