O povo brasileiro está assustado com o aumento do custo de vida. A divulgação da inflação de junho mostra que o índice voltou a acelerar o que contribui para este sentimento, mas não é apenas isso. O poder de compra do(a) trabalhador(a) tem caído pela diminuição da renda e o aumento do fosso entre os(as) mais pobres e os(as) mais ricos.
O índice geral acumulado nos últimos 12 meses subiu de 11,73% para 11,89%, em junho, na segunda alta depois do pico de 12,12% registrado em abril. Na prática a maior parte do povo brasileiro tem sentido no bolso uma inflação bem mais alta, uma vez que itens básicos tiveram aumento muito maior, como é possível ver no gráfico com a inflação anual registrada em junho.
Os preços do grupo alimentos e bebidas tiveram elevação ainda maior, passando para 13,93%. O(a) trabalhador(a) tem dificuldade para colocar a comida no prato. O feijão carioca, o mais consumido no Brasil subiu mais de 29%, pouco acima do gás de cozinha. Esses aumentos em conjunto elevaram o valor da cesta básica apurada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nas capitais. Em São Paulo o aumento chegou a 24% no acumulado em 12 meses, com a cesta básica passando para R$ 777. O valor representa quase 70% do Salário-Mínimo, e como cerca de 70% dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as) ganham menos do que 2 salários mínimos, podemos imaginar o grau de dificuldade que as famílias passam.
Gráfico – Inflação de junho de 2022 medida pelo IPCA acumulado em 12 meses, por sub-item.
Os reflexos desta queda de renda podem ser sentidos também na redução dos(as) brasileiros(as) cobertos por planos de saúde privados individuais ou familiares, quando o beneficiário paga sozinho o plano e não por meio da empresa em que trabalha.
Eram quase 120 mil brasileiros a menos nesses tipos de plano em março de 2022 do que em dezembro de 2020. E também na educação, com o número de alunos(as) matriculados(as) na rede privada de ensino caindo 12% de dezembro de 2020 para março de 2022, tirando quase 1 milhão de alunos da rede privada devido a dificuldades para pagar a escola no período da pandemia. Neste contexto é cada vez mais importante os serviços de saúde e educação fornecidos pelo setor público.
O povo brasileiro está cortando as despesas onde é possível, e fazendo o impossível para garantir um mínimo de qualidade de vida, num país em que 61 milhões de pessoas são atingidas pela insegurança alimentar moderada ou grave. A fome é o lado mais duro da crise atual, evidenciando as enormes carências do Brasil e a dificuldade de responder de forma efetiva os desafios econômicos. A desestruturação dos programas da agricultura familiar, estoques reguladores e compras públicas e alimentação saudável nas escolas têm agravado o quadro. A soberania alimentar do País, conquistada com a saída do mapa da fome foi perdida. E a discussão sobre o aumento do novo Bolsa Família (Auxílio Brasil) mostra o improviso de um governo que abandona milhares de pessoas jogadas na pobreza, num momento em que o Brasil precisa de planejamento e estabilidade.
O auxílio eleitoral elevando o benefício para R$ 600 até dezembro, e os vales temporários para motoristas e caminhoneiros têm o apoio de todos, mas os motivos diferem e o povo saberá separar o joio do trigo nas eleições que se aproximam.
Fonte: Alexandre Ferraz - Subseção do DIEESE/CONTAG