A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) manifesta sua profunda preocupação quanto à proposta de redução do Censo Agropecuário previsto para 2017 a uma simplória amostragem estatística. A proposta coloca em risco toda a série histórica de informações sobre as populações do campo, suas formas organizativas, seu potencial econômico, a realidade ambiental, a verdade sobre a ocupação e uso da terra.
Para a CONTAG, a não realização do Censo Agropecuário, que deveria ter por base o ano de 2016, é resultado de clara submissão política do atual governo aos ruralistas latifundiários que buscam esconder as mudanças positivas estabelecidas no meio rural brasileiro pela Agricultura Familiar, reconhecida institucionalmente em 1995 por seu potencial gerador de ocupações produtivas e renda no campo, sendo a principal responsável pela produção de alimentos básicos consumidos pela população e pela dinamização das economias locais em mais de 80% de municípios.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não pode ser objeto de pressões políticas contrárias aos interesses da Agricultura Familiar, que é representada por mais de 20 milhões de pessoas em mais de 4,3 milhões de estabelecimentos rurais e responsável por mais de 70% das ocupações produtivas do campo. Essa realidade coloca o Brasil em destaque como país onde mais se avançou na implementação de políticas públicas de combate à pobreza, inclusive, superando a condição de pobreza extrema de sua população. Portanto, é preciso mostrar quem produz “o quê, onde e como” no campo, em especial, para identificar quem realmente produz os produtos básicos da alimentação dos brasileiros.
Outras informações são essenciais para desmistificar o que há de real no tocante aos modelos de produção, em especial a “produção de base agroecológica” versus “agronegócio”, especialmente, para mostrar à população brasileira a diversidade de possibilidades e seus efeitos para o futuro do Brasil. Para o gerente do Censo Agropecuário, Antônio Florido, “[...] a Agricultura Familiar representa quase três quartos do pessoal ocupado na agropecuária, notadamente na produção de alimentos para o consumo interno, cujo comportamento tem impacto direto na inflação. Os dados do Censo Agropecuário são o único modo de efetuar estimativas sobre o fluxo dos gastos previdenciários com aposentadoria dos agricultores familiares, portanto, fundamentais para construção de um sistema de proteção social robusto [...], servem, também, às análises comparativas de indicadores agropecuários e ambientais de organismos nacionais e internacionais, como os indicadores do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.
Nesse sentido, a CONTAG continuará firme nas cobranças junto ao governo federal para garantir os recursos necessários, orçados inicialmente em R$ 1,6 bilhão, atualmente, reduzidos à R$ 505 milhões, para realizar um Censo Agropecuário de fato. Além disso, manterá a forte pressão sobre o Congresso Nacional para que os responsáveis por esta pesquisa manifestem as razões pelas quais o Censo Agropecuário encontra-se ameaçado de ser substituído por uma amostragem que pouco servirá para retratar a realidade do Brasil rural.
Brasília/DF, 31 de março de 2017 - (53 anos do Golpe de 1964) FONTE: Diretoria da CONTAG