Cerca de 80 margaridas estiveram presentes em Carpina para discutir a luta das mulheres no Movimento Sindical Rural, feminismo e patriarcado, e pensar táticas e estratégias locais de mobilização e coordenação local para a marcha, que acontece dias 15 e 16 de agosto rumo à Brasília
Oferecer formação política para lideranças e dirigentes mulheres coordenadoras da preparação e realização da 7ª Marcha das Margaridas, nos dias 15 e 16 de agosto deste ano. Esse foi o objetivo geral do 2º Curso Estadual da Enfoc em Pernambuco de Formação Política de Mulheres, que aconteceu de 17 a 20 de abril no Centro de Formação Euclides Nascimento em Carpina (PE).
Cerca de 80 mulheres de sindicatos de todas as regiões do estado estiveram juntas discutindo trabalho de base e estratégias de organização e mobilização para a marcha, apresentando a Escola Nacional de Formação da Contag, a Enfoc, e aprofundando conteúdos como patriarcado, feminismo e organização política, entre outros pontos.
Momentos de cuidado coletivo e apresentação
O primeiro dia foi voltado para apresentação e acolhimento e a compreensão do processo de autoconhecimento e integração das mulheres a partir de discussões sobre as identidades e as histórias de vida. Estiveram presentes na abertura política representando a direção Cícera Nunes, presidenta, Jenusi Marques, diretora de Organização e Formação Sindical, Adriana do Nascimento, diretora de Política para Mulheres, e Adimilson Nunis, diretor de Política para Terceira Idade e Idosos e Idosas.
“A marcha sempre aconteceu em cada casa, cada mente, em cada luta que a gente fez e faz. A marcha não é apenas o ato em Brasília, que é uma grande manifestação onde a gente torna pública a nossa luta. Mas vai além disso. No decorrer desse curso, vocês vão perceber o quanto é profundo e importante nós mulheres tentarmos discutir os nossos problemas como problemas sociais, que a gente tem que enfrentar na sociedade para que as mulheres possam ter ali seus direitos” colocou Cícera Nunes, durante fala inicial.
Além disso, Jenusi Marques realizou a apresentação da Escola Nacional de Formação da Contag, a Enfoc, e debatidos os princípios da Política Nacional de Formação do Movimento Sindical Rural.
“A gente realiza a Marcha das Margaridas na perspectiva de fortalecer ainda mais a nós mulheres que estamos na luta do dia a dia, seja na política partidária, seja na política sindical, seja à frente de uma associação comunitária lá no município, de uma cooperativa, na direção do sindicato. Qualquer espaço em que nós estejamos, é sempre importante que a gente possa também ter espaços como esse pra nos fortalecer enquanto mulheres”, pontuou Jenusi.
História de luta das mulheres no MSTTR
O segundo dia foi o momento de aprender e colocar a mão na massa. Pela manhã, a secretária de Mulheres da Contag, Mazé Morais, foi a convidada para fazer um momento de trocas e aprendizados sobre a história da luta das mulheres no Movimento Sindical Rural de Pernambuco e do Brasil, desde a década de 1960 até os dias atuais, incluindo os anos das edições anteriores da marcha.
“A Marcha das Margaridas tem mostrado um grande poder de mobilização. Embora ela seja coordenada pela Contag, ela consegue ultrapassar as fronteiras que limitam o espaço sindical e constroi alianças com outras organizações, movimentos, centrais sindicais, e isso deu maior representatividade, inclusive ao processo de negociação. A nossa plataforma política foi aprofundando questões de segmentos específicos, como das mulheres extrativistas, pescadoras, ribeirinhas, indígenas, quilombolas, quebradoras de coco, de populações tradicionais”, colocou Mazé Morais.
Na construção da linha do tempo, as margaridas puderam assistir a um vídeo com detalhes da marcha de 2015 e da luta das mulheres pelos direitos e espaço no movimento sindical. A metodologia usada contou com a contribuição das mulheres, que puderam trazer suas lutas e experiências no movimento e na marcha, desde as que estão há mais tempo desde as que participaram das últimas edições da marcha, que acontece desde os anos 2000.
À tarde, as mulheres se reuniram em equipes para discutir os 13 eixos estratégicos da marcha. Com base em material construído pelas margaridas e produzido pela Contag, elas puderam propor demandas e políticas que dizem respeito a suas questões locais e que possam ser articuladas e levadas para Brasília em agosto.
“Através da marcha, tem se promovido cada vez mais o reconhecimento das mulheres do campo, das florestas e das águas como sujeitos de direito, que se expressaram durante os governos populares para elaboração de políticas públicas, governos que responderam a parte de nossas demandas. Infelizmente, praticamente todas elas deixaram de ser aplicadas ou foram extintas durante os governos Temer e Bolsonaro”, adicionou Mazé.
Patriarcado e feminismo no Movimento Sindical Rural
O terceiro dia foi voltado para discussões sobre o sistema patriarcal e o movimento feminista. A educadora popular Carmem Silva, do grupo SOS Corpo, foi convidada para fazer o debate. A ideia foi pensar como a dominação patriarcal acontece para além das violências mais evidentes, as relações de sustentação do patriarcado com o capitalismo e o racismo, e a compreensão histórica de como ele se constituiu socialmente. Além disso, as mulheres discutiram como o feminismo pode se dar dentro do contexto do Movimento Sindical Rural.
“O que chamamos de patriarcado está em todo lugar e em todos os âmbitos da vida. Se fosse só dentro de casa, seria fácil mudar, era só sair de casa. Mas o patriarcado existe dentro da gente e na sociedade como um todo. Posso ser a mulher mais feminista, mais margarida possível e no meu trabalho ser explorada, ganhar menos, e sofrer alguma violência do mesmo jeito. Esse sistema, esse conjunto interligado de coisas que sustenta o patriarcado se dá pelas estruturas, como o trabalho, a divisão sexual do trabalho, e o controle sobre o nosso corpo”.
Ações de mobilização na base
O quarto e último dia teve como foco a discussão sobre como as margaridas estão coordenando as mobilizações para a marcha em seus contextos locais. De início, foi trazida a experiência do Março de Luta, quando a Diretoria de Política para as Mulheres da Fetape, junto com outras diretorias, socializou o processo vivenciado em cerca de 25 cidades de animação e engajamento para a marcha, que ocorrerá em agosto.
As margaridas trouxeram experiências como comunicação por meio de redes sociais e rádio, criação de fundos e caixas para a marcha, vendas de materiais e produtos, articulação social e política junto com parcerias locais, e trabalho de base.
“A coordenação da marcha aqui em Pernambuco, embora esteja sob função da Diretoria de Mulheres e da Comissão Estadual de Mulheres da Fetape, não é suficiente. Coordenação é uma coisa, articulação e mobilização são muito mais importantes, e esses lugares precisam estar juntos para fazer muita coisa.
A nível estadual, também nos articulamos com parceiras, que agora são 8. Essa articulação assume papel de mobilização no âmbito politico, mas também ha aquelas que conseguem se mobilizar no âmbito de mobilização de recursos”, declarou Adriana do Nascimento, diretora de Política para as Mulheres.
Em clima de acolhimento e despedida do primeiro módulo, as participantes puderam participar de um momento de encontros e toques mútuos para fortalecer os laços construídos ao longo dos últimos dias. O curso continuará no 2º módulo, que ocorre de 23 a 26 de maio em Garanhuns.
Fonte: Ascom/FETAPE