De repente, não mais que de repente, do riso fez-se o pranto. (Soneto da Separação - Vinicius de Morais).
Aos poucos a normalidade do antes deu lugar a um cenário marcado pelo medo do contato, de sair de casa, de abraçar, de beijar, de encontrar a outra, o outro...
A pandemia de Covid-19 interrompeu planejamentos, projetos e sonhos. De um dia para outro mudou a vida não só de quem está na cidade, mas também de mulheres e homens que vivem no campo, nos lugares mais longínquos do Maranhão.
Do pranto surge a vontade de lutar, de vencer, de cuidar do próximo
E é nesse cenário complexo e difícil, que brota a força das Margaridas do Maranhão, na busca coletiva para combater o coronavírus e defender a vida.
Impulsionadas pelo Coletivo Estadual de Mulheres, essas Margaridas Maranhenses passaram a se conectar diariamente nas Redes Sociais, conversando, socializando ideias, vivências e experiências a cerca do combate a Covid-19. Espaços virtuais onde predomina o sentido e o sentimento da frase: Ninguém solta a mão de ninguém!
Com sororidade, buscamos juntas garantir que todas(os) do meio rural enfrentem esse momento de crise sanitária, social, econômica e psicoemocional. Temos consciência de que unidas(os) somos muito mais fortes, compartilha a secretária de Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA), Ligia Daiane.
(Foto: César Ramos)
Unidade das mulheres rurais maranhenses contra a Covid-19 que se evidencia na costura de máscaras artesanais, no atendimento aos trabalhadores(as) rurais nos Sindicatos e na produção de alimentos nesse momento de pandemia.
A arte de costurar: abençoadas mãos na prevenção e contenção do coronavírus
Nas suas máquinas de costura, com tecidos novos, antigos, doados ou comprados, as Margaridas maranhenses produzem diariamente máscaras artesanais para doarem aos trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares. Um desses exemplos de solidariedade vem da comunidade remanescente de Quilombo Capoeira, em Viana/MA.
Através das doações de materiais do Sindicato, dos(as) companheiros(as) e amigos(as), estamos confeccionando de forma gratuita máscaras para os(as) moradores(as) de Capoeira e de outras comunidades vizinhas, e conscientizando as pessoas sobre a importância de ficarem em casa para impedir que o vírus da Covid-19 contamine mais gente, relata a quilombola Maria Madalena Santos Rocha.
Além das doações nas comunidades, as mulheres rurais maranhenses também distribuem as máscaras durante atendimento no Sindicato, nas filas das agências bancárias e casas lotéricas durante o recebimento do auxílio emergencial e nas Delegacias Sindicais de Base.
É preciso acolher e orientar
As ações das mulheres também estão no atendimento diário nos Sindicatos, onde além de cumprirem recomendações da FETAEMA e da CONTAG pautadas nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação a proteção e propagação da Covid-19, também têm conversado com os trabalhadores(as) rurais sobre os cuidados com a doença.
"Aqui e em vários Sindicatos do Maranhão foram colocados na entrada da sede para uso dos trabalhadores(as) rurais: água, sabão e álcool em gel. Também montamos cantinhos de informação com materiais de linguagem simples sobre a Covid-19. A pandemia tem nos ensinado que mesmo com pouco recurso, podemos criar estratégias e garantir um atendimento seguro à nossa categoria, afirma a dirigente do Sindicato de Trabalhadores(as) Rurais de Vitorino Freire, Eline Macêdo.
Assista o vídeo produzido pela FETAEMA: POPULAÇÃO RURAL PROTEGIDA E NA LUTA CONTRA A COVID-19
Da resistência nós brotamos
A resistência das mulheres rurais maranhenses também está no dia a dia do campo, onde prevenidas contra o coronavírus, elas continuam diariamente nas suas plantações e criações, comercializando seus produtos para que não falte comida na mesa dos povos do campo e da cidade.
Sou grata a Deus, pois apesar das dificuldades e pânico provocados pela pandemia do coronavírus, continuo fazendo a entrega da nossa produção para a população que não está na roça. Assim as pessoas não morrem de fome, porque alguém da agricultura familiar está levando alimentos para elas, compartilha a agricultora familiar Maria da Conceição, que trabalha com a plantação de hortaliças e frutas, no município de Nunes Freire/MA.
Resistência , sororidade, amor, solidariedade, esperança, coletividade....
Para essas mulheres, a caminhada por vezes longa torna-se menos árdua quando entrelaçam suas mãos com outras mulheres. Quando juntas carregam as bandeiras históricas do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) que estão pautadas na valorização do espaço rural como um local privilegiado de transformação e implementação de políticas de inclusão social.
Sairemos dessa ainda mais fortalecidas, trazendo nossas bandeiras de luta por terra, água e agroecologia, e em defesa do nosso Sistema Único de Saúde (SUS). Em tempos de pandemia, firmamos nossas ações no exemplo da trabalhadora rural e líder sindical Margaridas Alves, que mesmo diante da perseguição dos grandes latifundiários, afirmava: É melhor morrer na luta do que morrer de fome. Enquanto Margaridas, seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres, conclui a secretária de Mulheres da FETAEMA, Ligia Daiane.
FONTE: Comunicação FETAEMA, com informações da Secretaria de Mulheres da FETAEMA