Nós, Margaridas, nos sentimos violentadas com o golpe contra a democracia brasileira, na figura da presidenta Dilma Rousseff. Este golpe afeta a todas nós. Esses dias ficarão marcados em nossa História como os dias em que a injustiça uma vez mais prevaleceu em nosso País, mesmo sob o clamor de grande parte dos brasileiros e brasileiras, e também de todo o mundo, estarrecidos com tamanho desrespeito ao voto de mais de 54 milhões de brasileiras(os), por meio de um golpe parlamentar-institucional-midiático. O voto de 61 senadores decidiu, apoiado em falsos argumentos jurídicos, a destituição da primeira mulher presidenta da República do Brasil. O golpe ficou comprovado quando, apenas quatro dias após o impeachment, o Senado Federal aprovou a lei que garante que, de agora em diante, o Presidente da República não necessita mais consultar o Congresso Nacional em caso de necessidade de suplementação orçamentária, única acusação de crime contra Dilma Rousseff. Vimos um golpe forjado com base na traição, na chantagem, na corrupção, um golpe contra o povo e contra a Nação, um golpe cuja face é misógina, homofóbica e racista, reflexo da imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência. Vimos nas declarações, nos anúncios, nos discursos dos golpistas a incitação ao ódio, ao machismo escancarado, e ao patriarcalismo que não admitiu ver uma mulher de esquerda que não pactuou com os esquemas de corrupção nos altos escalões.
O discurso da incapacidade das mulheres para governar foi utilizado pelos reacionários que esconderam a crise internacional que o capitalismo está vivendo, apresentando soluções mentirosas para “recuperação” da economia do nosso País. Tudo o que tem sido apresentado é parte do projeto capitalista neoliberal que pretende retirar direitos trabalhistas, diminuir o papel do Estado e a execução de políticas sociais, como a Previdência Social e o direito à aposentadoria diferenciada entre urbanos e rurais, entre homens e mulheres, impondo maior discriminação às mulheres. Mais uma vez, nós, mulheres, vemos nossos direitos de viver, trabalhar, nos aposentar com dignidade em risco! Em poucos meses de um golpista no governo, tivemos o desmantelamento de todas as políticas públicas para as mulheres, políticas conquistadas com muita luta.
O impeachment de Dilma Rousseff representa uma marcha violenta sobre a presença das mulheres nas decisões dos rumos da sociedade. Querem nos impor que esse é o resultado para as mulheres que ousam desafiar machismo e descolonizar os espaços dominados pelos homens! Querem dizer ‘Aqui não é o lugar de vocês!’. Mas nos reinventamos e colocamos em xeque todos os sistemas de dominação das mulheres. Este é o recado que deixamos, reforçado no discurso de Dilma para um plenário branco, machista, elitista: podem tirar nossas vidas, podem suprimir nossos espaços de participação política, podem roubar nossos corpos, mas não terão nossa alma e nem nossos sonhos... Se é impossível extinguir uma raça, é mais impossível extinguir sonhos de liberdade! Enquanto existir uma mulher, haverá resistência!
Nós, MARGARIDAS de coração valente que somos, não nos calaremos frente a todas essas injustiças! Seguiremos em marcha na luta contra todas as formas de opressão, exploração, preconceito, discriminação, injustiças. Contra o retrocesso de direitos que tão duramente conquistamos, como o direito de livre expressão e manifestação! Frente à criminalização de nossas lutas, denunciaremos para o mundo toda violência e abuso de autoridade! Jamais desistiremos da luta!
Conclamamos a todas as mulheres a seguiremos em marcha, na luta por justiça, igualdade, autonomia, liberdade e pelo restabelecimento da nossa Democracia golpeada, em defesa da legalidade do Estado de Direito brasileiro e de nossos direitos usurpados.
Eleições diretas já! Exigimos respeito ao voto do povo brasileiro!
Em nome de todas as margaridas de coração valente:
CONTAG – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES
AMB – ARTICULAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS
CNS – CONSELHO NACIONAL DAS POPULAÇÕES EXTRATIVISTAS
CTB – CENTRAL DE TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO BRASIL
CUT – CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES
GT MULHERES DA ANA – ARTICULAÇÃO NACIONAL DE AGROECOLOGIA
MAMA – MOVIMENTO ARTICULADO DE MULHERES DA AMAZÔNIA
MIQCB – MOVIMENTO INTERESTADUAL DE MULHERES QUEBRADEIRAS DE COCO BABAÇU
MMM – MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES
MMTR-NE – MOVIMENTO DE MULHERES TRABALHADORAS RURAIS DO NORDESTE
UBM – UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES
UNICAFES – UNIÃO NACIONAL DE COOPERATIVAS DE AGRICULTURA FAMILIAR E ECONOMIA SOLIDÁRIA FONTE: Secretaria de Mulheres da CONTAG