Depois de três dias de análise e debates sobre a realidade da juventude rural da América Latina, foi construída uma carta política com proposição de políticas estruturantes para o fortalecimento da agricultura familiar, campesina e indígena nos países latinos. Este documento foi aprovado e entregue aos representantes do governo brasileiro na tarde desta quinta-feira (31), na sede da CONTAG, em Brasília. Esta atividade integra a programação do Seminário Internacional da Juventude Rural pela Reforma Agrária e Crédito Fundiário, que reuniu jovens trabalhadores(as) rurais, campesinos(as), indígenas, afrodescendentes e quilombolas de diferentes regiões da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Nicarágua, Paraguai, Peru e Uruguai.
A carta traz quatro propostas centrais, que são: o direito à terra; o direito à educação pública, gratuita e de qualidade; o direito ao trabalho decente; e o direito da juventude de vivenciar sua condição juvenil no campo, experimentando diferentes formas de sociabilidade a partir do direito à cultura, esporte, lazer, tecnologias da informação e comunicação, participação social e política de maneira autônoma e protagonista.
O momento de entrega da carta contou com a presença da diretoria da CONTAG, da Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, da juventude rural da América Latina, da secretária Nacional da Juventude do governo federal, Severine Macedo, e de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Secretaria-Geral da Presidência da República, da FAO e da REAF.
Depois de receber a carta, Severine Macedo reafirmou o compromisso do governo federal no avanço da agenda da juventude rural, principalmente após a aprovação do Estatuto da Juventude. “Queremos lançar, ainda nesse ano, o Política Nacional de Juventude Rural coordenado pela Secretaria Nacional de Juventude em conjunto com o MDA e outros ministérios. É uma iniciativa para começar a executar de maneira articulada nos territórios as ações na área do crédito, da assistência técnica, da formação e viabilizando pontos de cultura dentro do espaço rural.” Segundo Severine, o objetivo é ampliar as oportunidades para os jovens permanecerem no campo, especialmente as mulheres jovens, maiores vítimas do êxodo rural no Brasil.
Adriana do Nascimento, secretária de Juventude Rural da FETAPE, participou do seminário e destacou que esse encontro proporcionou compreender que a realidade da juventude brasileira não está tão distante da realidade da juventude dos outros países da América Latina. “Travamos as mesmas lutas em prol do acesso à terra e da permanência no campo, mas com qualidade de vida e trabalho. Mas, a juventude quer junto com a terra as políticas públicas estruturantes, como a água para produzir, a educação, cultura, esporte, entre outras importantes para a geração de renda e qualidade de vida.”
Evangelina Codoni, da Federação Agrária Argentina, disse que na Argentina não existem políticas voltadas para a agricultura familiar e campesina, tampouco para a juventude rural. Neste sentido, avaliou positivamente esse intercâmbio com a juventude rural latina. “Conhecemos a realidade dos jovens brasileiros e dos outros países. Estamos aprendendo sobre as experiências. Infelizmente, não conseguimos manter um diálogo com o governo argentino para levar essas propostas.”
AVALIAÇÃO O seminário foi coordenado pela CONTAG, mais especificamente pelas Secretarias de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, de Política Agrária e pela Vice-Presidência e Secretaria de Relações Internacionais.
Para Mazé Morais, secretária de Jovens, estes três dias foram muito importantes. “Conseguimos conhecer a realidade da juventude rural da América Latina. Os nossos problemas no Brasil são praticamente os mesmos dos outros países. Nós debatemos e fizemos proposições ao governo brasileiro e aos outros governos latinos. Agora, esperamos que os governantes olhem com carinho e atendam as reivindicações da juventude rural.”
Zenildo Pereira Xavier, secretário de Política Agrária, afirmou que o objetivo foi alcançado e que a Reforma Agrária é a principal demanda da juventude rural. “Conseguimos definir alguns encaminhamentos e proposições para o ano de 2014. São proposições para avançar na Reforma Agrária e na Agricultura Familiar. Hoje, a principal demanda da juventude brasileira e dos outros países latino-americanos é o acesso à terra. Além disso, também somos contra o avanço do agronegócio, que expulsa, cada vez mais, os jovens do campo.”
Por fim, Willian Clementino, vice-presidente e secretário de Relações Internacionais, avaliou que a iniciativa do seminário foi interessante do ponto de vista que a CONTAG conseguiu perceber que os problemas enfrentados pela juventude brasileira são os mesmos enfrentados pela juventude latino-americana. “Portanto, faz-se necessário discutir em toda a região latino-americana o papel da juventude e o papel do acesso à terra, da reforma agrária e do crédito fundiário para que esses jovens possam ter as condições de exercer e fazer de fato com que aconteça a sucessão rural na agricultura familiar, nas comunidades indígenas e quilombolas.”
FONTE: Imprensa CONTAG - Verônica Tozzi