As mulheres do campo vão demonstrar mais uma vez sua força de mobilização na luta contra a fome, pobreza e violência sexista. Elas vão participar de uma série de atividades, em agosto, para lembrar os 25 anos do assassinato da sindicalista Margarida Alves e dar continuidade à negociação da pauta da Marcha das Margaridas com o governo federal. A agenda da Jornada das Margaridas será coordenada pela Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais (CNMTR) da Contag e prevê manifestações em todo o País.
A programação começa no dia 11 e se estende até 15 de agosto. As reivindicações da Marcha das Margaridas que ainda não foram atendidas pelos governos federal, estaduais e municipais serão retomadas durante a Jornada das Margaridas. A coordenadora da CNMTR e vice-presidente da CUT, Carmen Foro, explica que a idéia é tornar o dia 12 de agosto - data do assassinato de Margarida Alves - em um dia permanente de luta das trabalhadoras rurais.
Ela explica que a agenda do evento em Brasília vai estar em sintonia com as mobilizações nos estados e municípios. "A Jornada das Margaridas será um momento de traduzir, debater, fazer valer a luta de Margarida Alves, mas também fazer valer a nossa luta e a nossa força", afirma Carmen.
Agenda - O seminário nacional "Atualização da Pauta da Marcha das Margaridas" reuniu as coordenadoras das Comissões Estaduais de Mulheres e representantes das entidades parceiras e definiu, nos dias 14 e 15 de julho, em Brasília, a agenda da Jornada das Margaridas. As principais atividades vão ocorrer em Brasília, mas os estados terão um calendário próprio ao longo do mês.
A Câmara dos Deputados vai promover uma sessão especial no dia 11 para marcar a data do assassinato de Margarida Alves. As trabalhadoras rurais também vão participar do seminário "Mulher: Participação, Poder e Democracia" e de uma rodada de negociações nos ministérios. A pauta atualizada das reivindicações da Marcha das Margaridas será entregue aos ministros Luiz Dulci e Nilcéia Freire. A Comissão Nacional de Mulheres está negociando, ainda, uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto.
Margarida Alves: "Prefiro morrer lutando a morrer de fome"
Margarida Maria Alves presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB) quando foi assassinada a tiros em 12 de agosto de 1983. Os principais suspeitos pelo assassinato são latifundiários da região que ficaram incomodados com o papel de destaque da sindicalista na luta pela garantia de direitos como carteira assinada, 13º salário e férias.
Margarida Alves promoveu campanhas de conscientização e, aos poucos, com a ajuda do sindicato, os trabalhadores e trabalhadoras começaram a mover ações na Justiça do Trabalho para exigir seus direitos. Antes de ser morta, ela protocolou 73 reclamações trabalhistas contra empresas da região.
Por causa da intensa mobilização em defesa dos direitos humanos e trabalhistas, Margarida Alves começou a receber ameaças. Latifundiários mandavam "recados" pedindo que ela parasse de "criar caso" e deixasse a presidência do sindicato. Ela respondia às ameaças em público e afirmava não ter medo, pois preferia morrer lutando a morrer de fome. FONTE: Ciléia Pontes