Por Hilário Gottselig - presidente da Fetaesc (*) Ao percorrer 232 municípios catarinenses para discutir qual o projeto adequado de desenvolvimento rural sustentável, deparei com famílias de agricultores intimidadas e temerosas. Recolhem-se em suas propriedades e nem mais participam de eventos em suas comunidades. Encontrei cidadãos amedrontados e dizendo aos filhos que ali não é lugar de futuro. Não que eles não gostem da profissão. O que os atormenta é o nível de responsabilização com que os sobrecarregam, além das incertezas da própria atividade. Desse quadro, três aspectos devem estar na pauta dos governantes. O primeiro se refere às exigências de regularização ambiental e de uso da propriedade. O governo exige, no mínimo, 20% do patrimônio do agricultor. Diz que é o agricultor quem deve pagar pela regularização, cujo custo é bastante elevado. No entanto, conforme legislação em vigor, esses custos devem ser arcados pela União e o Estado. Mesmo cuidando adequadamente de seu patrimônio, o agricultor geralmente é punido. Se fizer uso da água que passa pela propriedade ou se retira uma árvore para melhorar a moradia, recebe a visita de policiais. As exigências sanitárias encurralam o agricultor familiar. Não é permitido vender qualquer produto oriundo do campo sem que haja licença para tal. Ao vender um queijo na cidade, o que é feito há dezenas de anos sem que ninguém tenha ficado doente, os fiscais fazem uma abordagem para investigar a sacola da agricultora, e exigem dela os mesmos procedimentos que exigem das grandes indústrias, inviabilizando a produção artesanal. A legislação proíbe o trabalho dos menores de 16 anos. Eles precisam estudar e ter momentos de lazer. Mas como vão ter gosto pela atividade agrícola sem o aprendizado desde cedo? Diante dessa situação, até quando os agricultores estarão produzindo alimentos, que não crescem nas indústrias e nem em laboratórios, mas sim do trabalho de cultivar a terra? Num futuro breve, não teremos mais agricultura familiar. Hoje, em 35% das propriedades rurais catarinenses já não há mais sucessor. Os ex-futuros agricultores preferem qualquer emprego na cidade a continuar nessa atividade, sem perspectiva de crescimento e criminalizados, como está ocorrendo com seus pais. Artigo publicado no jornal Diário Catarinense na edição de 28 de outubro de 2010 (N° 8973) FONTE: Comunicação da Fetaesc