As entidades da sociedade civil reuniram-se nesta quinta-feira (29) com o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner, e com outros representantes para entregar manifesto em solidariedade à perseguição sofrida pela CNBB durante a campanha eleitoral para a Presidência da República.
A secretária de Políticas Sociais da CONTAG, Edjane Rodrigues, representou a Confederação nesta reunião e reafirmou a importância da CNBB para a sociedade brasileira. “A CNBB exerce um papel importante no País, principalmente na defesa da democracia, da liberdade, da garantia de direitos, dos mais pobres e da unidade entre as organizações”, destaca Edjane.
No manifesto entregue, as entidades da sociedade civil destacam, ainda, o seu total “repúdio às práticas antidemocráticas e desrespeitosas aos direitos humanos, protagonizadas pelo candidato Jair Bolsonaro (agora, presidente eleito) e apoiadores, traduzidas em ataques criminosos à CNBB e outras organizações civis e religiosas que condenam tais procedimentos”, traz o manifesto. As entidades cobram também a apuração das responsabilidades. “Nesse contexto, demandam das autoridades constituídas a rigorosa apuração das responsabilidades pelas graves ameaças aos dirigentes da CNBB e a todos seus colaboradores. Reiteram que a solidariedade, a fraternidade e a apuração das responsabilidades são elementos éticos e legais indispensáveis à recuperação da paz e ao fortalecimento da democracia.”
Leia a nota na íntegra:
MANIFESTO EM SOLIDARIEDADE À CNBB
As entidades da sociedade civil, que subscrevem este documento, reunidas em 22 de outubro de 2018, em Brasília-DF, vêm a público manifestar a sua indignação com o grau de animosidade presente na campanha do candidato à presidência da República Jair Bolsonaro, bem como expressar sua indignação pelos sórdidos ataques praticados por seus seguidores contra a CNBB.
Tornam público seu profundo reconhecimento e respeito pela CNBB, que sempre desempenhou, nos mais graves momentos de nossa história, papel decisivo na construção de mediações e na resolução de conflitos, com o objetivo de estabelecer relações respeitosas e equilibradas entre os diferentes segmentos da sociedade, em sintonia com a ordem constitucional democrática. A sociedade brasileira é testemunha do importante papel que a CNBB, ao longo dos seus 66 anos de existência, tem desempenhado no cumprimento de sua missão pastoral e na ativa defesa da democracia, dos direitos e garantias, em especial dos mais pobres. Foi justamente no período da ditadura militar que os bispos brasileiros mais se engajaram na luta contra a tirania militar que perseguiu, prendeu e assassinou opositores. Enfrentaram então, com dignidade e coragem, as graves represálias por seu atos em defesa do povo brasileiro.
O fim do regime militar, a convocação da Assembleia Nacional Constituinte e o restabelecimento de eleições diretas foram tarefas árduas dos verdadeiros patriotas, que proclamaram, entre outros princípios, o da prevalência dos direitos humanos e o da indeclinável defesa da paz, como pilares da sociedade democrática. A CNBB, que teve papel fundamental nessas conquistas, continua lutando para aperfeiçoá-las, acolhendo a todos e todas que buscam seu apoio e discernimento na intermediação de conflitos, seja no âmbito do Estado ou da sociedade, para que prevaleça a paz social com justiça.
Por exigência dos princípios evangélicos e em sintonia com as orientações do Papa Francisco, a CNBB mantém viva em nossa sociedade o dever de acolhimento e cuidado dos mais vulneráveis e perseguidos. Esse trabalho, regido por fundamentos cristãos e éticos, tem assegurado direitos fundamentais, entre eles o direito à liberdade e a padrões dignos de vida para o povo brasileiro em geral.
Neste momento de grave ameaça de ruptura da democracia, da paz e do constitucional funcionamento das instituições, a CNBB e outros organismos eclesiais, que vêm atuando em consonância com o que dispõe e autoriza a Constituição Federal, têm sido alvo de graves agressões, inclusive ameaças de morte aos seus dirigentes. Têm ocorrido também ameaças de destruição do patrimônio da entidade e outras formas covardes de agressão, desfechadas a partir de variadas formas de comunicação. São ações criminosas, opostas aos mínimos padrões civilizatórios, na contramão da paz social e, por isso mesmo, repugnáveis.
Como agravante desse quadro, a sociedade se encontra atônita, perplexa e dividida, enquanto Jair Bolsonaro e seus seguidores avançam nos seus propósitos de implantar regime de exceção, com a supressão de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, bem como a destruição da soberania nacional. Essa ameaça se dá em plena campanha eleitoral, comprometida por crimes eleitorais, tais como a produção de falsas informações e caixa dois, usados para destruir a imagem do candidato adversário, Fernando Haddad, conforme matéria recente da Folha de S. Paulo. Conscientes de que a CNBB não recuará da sua missão profética, do anúncio da verdade evangélica e da proclamação da justiça social, as entidades signatárias deste documento manifestam seu reconhecimento pelos serviços prestados pela CNBB à democracia, assim como se solidarizam com todas as instituições cujos direitos são atingidos.
Nesse contexto, demandam das autoridades constituídas a rigorosa apuração das responsabilidades pelas graves ameaças aos dirigentes da CNBB e a todos seus colaboradores. Reiteram que a solidariedade, a fraternidade e a apuração das responsabilidades são elementos éticos e legais indispensáveis á recuperação da paz e ao fortalecimento da democracia. E proclamam o total repúdio às práticas antidemocráticas e desrespeitosas aos direitos humanos, protagonizadas pelo candidato Jair Bolsonaro e apoiadores, traduzidas em ataques criminosos à CNBB e outras organizações civis e religiosas que condenam tais procedimentos.
Por fim, ratificam a sua solidariedade à CNBB, enquanto organização eclesial, cuja tradição, construída ao longo de décadas, tem sido marcada pela inquebrantável defesa dos valores humanos, da democracia, da tolerância, da paz e da justiça social.
Brasília/DF, 22 de outubro de 2018
Assinam:
ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária; ABJD – Associação Brasileira de Juristas pela Democracia; ADUNB – Associação dos Docentes da UnB; Centro de Formação da Juventude – Vida e Juventude Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil; CPT – Comissão Pastoral da Terra; CONDSEF – Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal; CONTRAF Brasil – Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil; CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais; CIMI – Conselho Indigenista Missionário; CONAQ – Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas; MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens; MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração; MATR – Movimento de Apoio ao Trabalhador e Trabalhadora Rural; MCP – Movimento Camponês Popular; MMC – Movimento de Mulheres Camponesas; MOPOCEM – Movimento Por Uma Ceilândia Melhor; MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores; MPP – Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais; MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; MTC – Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo; Observatório Político/CBJP; Província Frei Bartolomeu de Las Casas; Quintas Urbanas – UnB; SINPRO-DF – Sindicato dos Professore do Distrito Federal; SINDSEP-DF – Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Distrito Federal; Terra de Direito; FONTE: Entidades da sociedade civil que assinaram o manifesto