O auditório Margarida Alves vibrava com a expectativa que antecede qualquer festa. Ex-dirigentes, assessores e diversas pessoas que fizeram parte da trajetória do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) reencontravam-se para compartilhar relatos, causos e memórias dos principais momentos dos 50 anos de luta pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras na agricultura.
A primeira parte da comemoração dessa data tão significativa foi uma roda de conversa na qual ex-dirigentes da instituição recontavam fatos e remontavam o grande mosaico da história da CONTAG. A roda foi mediada pela educadora popular Socorro Silva, que iniciou o encontro recitando um poema de Patativa do Assaré, O poeta da Roça.
O atual presidente da CONTAG, Alberto Broch, deu as boas vindas aos presentes afirmando que ali estavam representados milhares de mentes e corações responsáveis pela existência de um movimento que sempre soube conviver com uma grande diversidade de ideias, origens e culturas. Para Francisco Urbano, ex-presidente da instituição, a luta pela Reforma Agrária foi o que sempre uniu os trabalhadores(as) de todo o país. “A CONTAG foi fundada em 22 de dezembro de 1963 e menos de seis meses depois foi tomada pelos militares. Mas nossa crença nos ideais da Reforma Agrária era tão forte que permanecemos unidos e nos fortalecemos”, lembrou ele.
O papel da Igreja Católica e do Partido Comunista foi um tema bastante citado por boa parte dos ex-dirigentes, pois muitos deles foram apresentados aos grandes temas de luta e de conscientização política por integrantes da igreja ou do “partidão”, ainda na década de 50. Outro assunto que ganhou destaque foi a participação das mulheres no movimento sindical. A primeira mulher a participar da diretoria da CONTAG, como suplente, Gedalva Fonseca, contou sua trajetória no movimento com muito carisma e não hesitou em afirmar: “Enfrentei muito machismo para abrir caminho na luta pelos direitos não apenas das mulheres, mas de todos os trabalhadores brasileiros”. Muitas músicas e descontração marcaram essa etapa da roda de conversas.
A ex-secretária de Mulheres da CONTAG Raimundinha de Mascena também lembrou das dificuldades enfrentadas para ver a voz das mulheres ouvida dentro da instituição. “Acho que já briguei com todos os homens que trabalharam na CONTAG, mas tenho a certeza do dever cumprido depois de, junto com uma excelente assessoria, preparar o caminho da Marcha das Margaridas”. A ex-secretária de Jovens Rurais Elenice Anastácio também teve uma participação memorável ao recontar sua história pessoal de luta por educação e introdução no movimento sindical. Para ela, o reconhecimento da capacidade dos jovens para lutar pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras é fundamental para o futuro do MSTTR.
Um ato simbólico marcou o fim do encontro. A atual diretoria da CONTAG plantou uma muda de pau-brasil no terreno da entidade, em um local onde será construída uma praça dedicada aos mártires da luta dos trabalhadores(as) rurais.
FONTE: Imprensa CONTAG - Lívia Barreto