Com tom forte de cobrança, a secretária de Políticas Sociais da Contag, Edjane Rodrigues, discursou na manhã desta quinta-feira, dia 14, em audiência pública na Câmara dos Deputados e afirmou que a educação pública, sobretudo a do campo, sofre processo de desmonte. De acordo com a dirigente sindical, os ataques são duros, contínuos e desrespeitam acordos estabelecidos em outros governos. “Em 2010, com a criação do Plano Nacional de Educação, conseguimos definir 20 objetivos e um deles era a de destinar 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação até 2024. Com a Emenda Constitucional 95, essa meta foi varrida. Escolas do Campo foram fechadas, cursos de licenciatura ameaçados e a defasagem orçamentária do Pronera, algo em torno de 90% entre 2016 e 2018. Isso vai na contramão do que sonhamos para o desenvolvimento social e econômico do país”, disse Edjane Rodrigues.
A secretária da Contag também reconheceu que ao longo de 20 anos da educação no campo houve muitos e importantes avanços, em que só foi possível por conta da atuação massiva dos movimentos sociais e sindicais e com o apoio dos governos de Lula e Dilma. “A luta vai continuar, sem desânimo e com muita esperança. Sabemos que a unidade é determinante pra enfrentar o desmonte que ocorre no país. Se não temos democracia no Congresso Nacional, vamos fazer democracia nas ruas”, garantiu. Edjane Rodrigues reafirmou ainda que neste ano haverá candidatos (as) da classe trabalhadora postulantes ao parlamento brasileiro. “Queremos ser, de fato, representados (as) e vamos retomar o projeto de desenvolvimento social, econômico e sustentável que o Brasil tanto precisa. Este é o nosso compromisso com as pessoas, o de espalhar esperança e possibilidade de dias melhores”, assegurou a dirigente da Contag. Mais denúncias
A representante do Fórum Nacional de Educação do Campo, Maria Isabel Farias, engrossou o coro e falou firme ao revelar que a educação pública está sendo entregue ao setor privado. Segundo ela, cidades de estados como Ceará, Pará e Paraná estão “servindo de laboratório” para empresas disseminar o conteúdo que acham ser apropriados. “A Positivo é um desses exemplos. O argumento da companhia é o de que ao utilizarem o material produzido por eles o município melhorará o Índice de Educação Básica (Ideb)”, lamentou. Ao concordarem com essa proposta os gestores municipais entregam o controle do conteúdo a ser ensinado. “Não teremos nessas cidades estudantes que discutam filosofia, diversidade, reforma agrária. É um ato violento e precisa ser conhecido por todos”, indignou-se Maria Isabel Farias. Números A diretora de Educação do Campo do Ministério da Educação Susana Guimarães, apresentou alguns números do Pronera e revelou que 32% dos professores do campo não têm graduação. “São mais de 345 mil educadores e pouco mais de 112 tem formação acadêmica. Isso precisa mudar e contamos com os movimentos socais para isso”, disse. A infraestrutura também um ponto preocupante, segundo as informações apresentadas pela gestora. Existem, atualmente, 60.047 escolas no campo, sendo que 29 mil sem computadores, 41 mil sem internet, quase 5 mil sem energia elétrica, 5,5 mil sem água potável e 8 mil sem esgotamento sanitário.
O deputado Padre João (PT-MG), mediador da mesa, ficou estarrecido com esses dados. “Esses números são piores do que imaginava e aí está o grande desafio. Mas sem recursos adequados será impossível melhorar esse quadro alarmante”, comentou o parlamentar petista. Quem também esteve presente na audiência pública foram os deputados Patrus Ananias (PT-MG) e Erika Kokay (PT-DF). Ambos reforçaram apoio à educação do campo e aos movimentos sociais e sindicais que lutam pela causa.
FONTE: Rafael Nascimento para Comunicação da CONTAG