A oferta e o preço do café conilon estiveram em debate na tarde ontem (17), em Brasília, durante reunião com representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), dos cafeicultores, das cooperativas, das indústrias, do Conselho Nacional do Café, Centro de Comércio do Café, entre outras entidades, como o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou uma prévia do levantamento dos estoques de café conilon no Brasil, estimando em 2,2 milhões de sacas, o que justificaria, na opinião do órgão, a importação de café pelo Brasil. Com base nessas informações, as indústrias de café cobram a liberação de importações de 200 mil toneladas mensais do produto até o mês de maio, período quando começa a entrar no mercado o café da nova safra. Os cafés poderiam ser importados de países como o Vietnã e Indonésia.
No entanto, as informações da Conab estão sendo questionados pelos representantes dos cafeicultores, tanto das categorias de agricultores(as) familiares e empresariais, quanto pelo Incaper e Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV). Segundo o deputado estadual Evair Vieira de Melo (PV-ES), os números divulgados pela Conab comentem um “equívoco metodológico” e não correspondem à realidade. Os dados levantados pelos setores do café conilon apontam um estoque de 500 mil sacas disponíveis na Bahia, 200 mil sacas em Rondônia e um pouco mais de 3 milhões de sacas no Espírito Santo. A metodologia adotada pela Conab para fazer esse levantamento também foi duramente contestada pelo presidente do Incaper, Marcelo Suzart de Almeida. Segundo Suzart, a Conab não levantou a quantidade de sacas disponíveis no Espírito Santo diretamente nas pequenas propriedades, agricultores(as) familiares independentes e nem junto ao Incaper.
Para o deputado Evair de Melo, essa tentativa de importação do café é uma justificativa para abrir o mercado e ficar na mão das grandes indústrias de torrefação, enquanto muitos produtores dependem do café. Além disso, afirmou que o café não está sendo disponibilizado no mercado pelos baixos preços oferecidos aos produtores. “Tem oferta, basta a indústria pagar um preço justo que terá oferta”, justifica.
A liberação da entrada do produto vietnamita entrou em debate por causa da diminuição da produção brasileira do conilon, provocada por dois anos seguidos de déficit hídrico. A redução na oferta levou o preço desse tipo superar o do arábica pela primeira vez na história. A saca de 60 quilos superou os R$ 520,00.
Nesta reunião, que terminou sem decisão, os agricultores e agricultoras familiares produtores de café estiveram representados pela Assessoria de Política Agrícola da CONTAG e pelo secretário de Política Agrícola da FETAES e presidente da União das Cooperativas da Agricultura Familiar do Estado do Espírito Santo (Unicafes-ES), José Izidoro Rodrigues. O dirigente do Espírito Santo, que também é produtor de café conilon, acredita ser possível reverter essa tendência de o governo liberar a importação. “Apesar de a gente perceber que o secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, tinha uma forte tendência de defender a vontade das indústrias, e isso nos deixou preocupados, deixamos claro na reunião de que ainda teremos muita luta, não vamos parar por aqui”, destaca o sindicalista.
Segundo Izidoro, esse preço mais elevado do café conilon é o que está incentivando as famílias agricultoras a permanecerem na área rural. “São os que têm um pouco de café e estão vendendo de pouco a pouco, que é uma prática da agricultura familiar guardar pequenos estoques dentro de suas tulhas ou armazéns, e quando precisam de dinheiro, de investir na propriedade, vão vendendo as sacas. Se o governo abrir para essa importação, o preço vai cair e vai desmotivar os nossos agricultores. No último período enfrentamos muitas dificuldades para colher café no Espírito Santo por conta da seca. Portanto, apesar de estarem visando maior lucro por parte das indústrias, segurar a inflação, essa importação de café deve ser repensada porque será muito prejudicial para a cafeicultura, em especial para a Agricultura Familiar”, explica Izidoro. FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG - Verônica Tozzi, com informações do Mapa e Notícias Agrícolas.