“Que bom seria se a gente conseguisse eliminar a violência contra as mulheres no mundo”, exclama Alessandra Lunas, secretária de Mulheres da CONTAG, ao constatarmos, indignadas, que as poucas políticas públicas, conquistadas a “duras penas” pelas mulheres do campo e cidade, estão sendo esvaziadas pelas medidas do atual governo. Quando a postura de um Congresso machista e fundamentalista votou a retirada da palavra relações de gênero do Plano Nacional de Educação, influenciando o mesmo processo nos estados e municípios, o que podemos espera? Ao eliminar a possibilidade da reflexão com crianças, adolescentes e jovens de como funcionam e se reproduzem as relações sociais de gênero em nossa sociedade, somos cúmplices do feminicídio, dos estupros e assédios sexuais sofridos por mulheres, jovens-adolescentes e meninas, que acontecem cotidianamente em nosso País.
Assim, o feminicídio, a cultura do estupro, da naturalização do assedio moral, das piadas sem graça, dos tapinhas que não doem, destroem e usurpam das mulheres sua autoestima e dignidade, transformando-as em “mortas vivas”. Essas mulheres são resultado de uma sociedade que ainda as consideram “cidadãs” de 2ª classe, onde os homens têm sobre elas o direito da posse e, consecutivamente, de suas vidas.
Os espaços públicos ainda são de domínio fortemente masculino, e nos postos de trabalho, aonde existe um número maior de mulheres, as chefias, na maioria, são ocupadas por homens. E em muitos postos de trabalho, os salários ainda são maiores para os homens, mesmo sendo a mulher do mesmo nível acadêmico e nas mesmas funções.
No meio rural, no trabalho coletivo da família, as mulheres estão em todas as etapas. Desde o preparo da terra, na plantação das sementes, no cuidado das plantas e da sua colheita. Mas, ainda poucas mulheres são consultadas ou definem o que fazer com os resultados desse trabalho. Essa é outra forma muito comum de violência contra as mulheres do campo, onde é desconsiderada sua necessidade específica em detrimento das do marido e filhos.
As mulheres do campo são afetadas mais duramente contra todos os tipos de violência, quando consideramos as grandes distâncias, as dificuldades de comunicação e acesso às políticas públicas de proteção, que seria a função do Estado.
A Lei Maria da Penha ainda não conseguiu atingir a grande maioria das mulheres que sofrem da epidemia chamada “violência doméstica”. As Casas da mulher Brasileira ainda não foram construídas em todas as capitais. As Unidades Móveis, conquista da Marcha das Margaridas, foram entregues em todos os estados – uma política pública específica para as mulheres do campo, florestas e águas. Mas, falta compromisso político dos estados e municípios para que sejam colocadas em prática, atendendo a todas as mulheres que, de uma forma ou de outra, sofrem cotidianamente vários tipos de violência.
Dona Maria, uma senhora idosa e indígena, residente no interior do estado de Tocantins, esteve na Oficina de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, realizada pela CONTAG e pela “esvaziada” Secretaria Nacional de Política para as Mulheres. Essa senhora fez uma declaração que emocionou, chocou e indignou o grupo de mais de 50 participantes em 2013. Dona Maria disse que estava trazendo sua neta para participar dessas atividades de “ensinamento para as mulheres”, para que ela não sofresse como ela. Declarou que: “...apanhei durante toda a minha vida de meu marido. Era forçada a fazer sexo sempre que ele queria. Muitas vezes bêbado não conseguia e aí me batia, pois dizia que eu era culpada. Eu sofria calada, pois pensava que a vida era assim. Bem mais tarde, depois dos filhos crescidos, descobri que não era assim. Hoje, acompanho minha neta, quero que ela seja feliz e livre!”
Essa é uma das milhares de histórias com “H” maiúsculo, que fazem parte da vida de grande parte das mulheres do campo e da cidade, no Brasil e no mundo.
No artigo da Sempreviva Organização Feminista (SOF), sobre o Dia Internacional de Eliminação da Violência Contra a Mulher, mostra que o espaço público é visto como local onde não há segurança ou respeito pelas mulheres. Ir para a rua é uma aventura arriscada. A pesquisa “Menina Pode Tudo” mostra que 94% das entrevistadas já foram assediadas verbalmente, e que 73% delas consideram um elogio por desconhecerem que é um tipo de violência. Ainda 77% foram assediadas sexualmente, sendo que 72% dos casos a violência foi cometida por desconhecidos.
No Brasil, são 45 mil estupros por ano, na Espanha a cada 8 horas uma mulher é estuprada. Na África do Sul, a cada 6 horas uma mulher morre nas mãos de seus companheiros, segundo dados da ONU. Uma campanha do jornal FCB da Nova Zelândia denuncia que 26% das mulheres que vivem em uma casa com mais de cem mil dólares, sofreram violência física e sexual de seus companheiros. Dessa forma, observamos que a violência contra a mulher não tem classe, raça ou credo e nem nacionalidade.
Por isso, também os dados e as centenas de notícias ao redor do mundo sobre a violência contra as mulheres dão conta que é preciso dar um basta neste tipo de pensamento, onde um ser humano quer sempre dominar, mandar, maltratar e até matar o outro, neste caso a outra.
Por uma sociedade mundial, solidária, amorosa! Pela coragem de denunciar o agressor... Por uma sociedade livre de violência contra as mulheres. Lutemos, pois a luta é todo o dia, no campo, na cidade, na floresta e nas águas! FONTE: Assessoria da Secretaria de Mulheres da CONTAG