Quase 14 milhões de brasileiros passam fome, revelou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílos (Pnad 2005). Para o vice-presidente da Contag e membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), Alberto Broch, a expansão da monocultura é uma das maiores responsáveis por essa realidade. "Não vamos acabar com a fome e a miséria sem discutir o desenvolvimento rural brasileiro. A persistir o modelo de monocultura, que avança a cada dia numa forma de agricultura sem agricultores, nós poderemos até ter índices de produtividade alta, ser líderes em vários produtos de exportação, mas nós não resolveremos problemas estruturais, como a questão da soberania alimentar."
Alberto Broch e a secretária de Políticas Sociais da Contag, Alessandra Lunas, participam da III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que neste ano acontece entre os dias 3 e 6 de julho, em Fortaleza (CE). Com o tema "Por um Desenvolvimento Sustentável com Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional", o evento reúne cerca de 2 mil delegados, além de observadores de 12 países.
A proposta do evento é avaliar os impactos do modelo de desenvolvimento na produção de alimentos saudáveis e na garantia da soberania e segurança alimentar e nutricional da população. Os participantes deverão apresentar alternativas a este modelo, de forma a colocar o direito humano à alimentação como prioridade no desenvolvimento do país. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o agronegócio, os alimentos transgênicos e a transposição do Rio São Francisco são algumas das questões que estarão em pauta.
"Desde de nosso 6º Congresso, em 1995, discutimos a implementação do projeto alternativo de desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário como forma de garantir qualidade para o trabalhador rural e a manutenção de nossas comundades e nossas raízes", pondera Broch. Para ele, a reforma agrária é uma forma eficaz de promover a soberania alimentar. "É preciso fazer a reforma agrária para que mais pessoas possam fazer parte daqueles que querem trabalhar a terra, viver dela para produzir alimentos e garantir a biodiversidade."
O presidente Lula participa da abertura da Conferência nesta terça-feira (3). Os resultados das discussões serão incorporados à Política Nacional de Segurança Alimentar. O documento será encaminhado às autoridades governamentais.
Fonte: Angélica Cordova