Com o propósito de identificar as especificidades da permanência da juventude rural no campo, a Contag vem realizando, desde setembro deste ano, uma série de encontros nas cinco regiões do Brasil. O interesse é de discutir a questão da sucessão rural, buscando construir elementos para um diagnóstico a partir de aspectos como os desafios, os contextos e as demandas dos/as jovens do meio rural, enraizando o debate a partir das demandas regionais. No Nordeste, última etapa do projeto, a atividade está sendo realiza desde a última quarta-feira (24), no Centro de Formação e Lazer do Sindsprev, no Recife, em parceria com a Fetape.
Com o mote: Juventude rural, desafios e perspectivas para permanecer no campo: construindo coletivamente o diagnóstico do Nordeste, a ação, que tem o apoio do SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), segue até esta sexta-feira (27). Para a Contag, a realização dos cursos regionais, neste momento, tem sido bastante importante, sobretudo para o fortalecimento da luta em defesa do PADRSS (Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário), a partir das especificidades regionais e juvenis. “Não está sendo preciso fazer muito esforço para que os jovens se integrem e entrem nesse debate. Participam dos encontros militantes, lideranças e dirigentes jovens que já vêm construindo estratégias de mobilização e organização no MSTTR. A experiência tem sido muito boa, e tem apontado para desafios e agendas estratégicas inovadores. A juventude é um potencial muito grande para as lutas no Brasil, ainda mais nesse contexto político e econômico de fortes discussões e tensionamentos”, analisa Eryka Galindo, assessora da Secretaria de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Contag.
A diretora de Política para a Juventude da Fetape, Adriana Nascimento, avalia que a Contag tem priorizado realizar essa pauta nas regiões, mas trazendo novos elementos. “Estamos fazendo esse debate de uma maneira ampliada, olhando para o cenário político-econômico atual. Mas também estamos olhando para o horizonte, refletindo sobre o que é que nós, jovens, necessitamos para permanecer nesse campo. Olhando para o que a gente já conquistou, mas também olhando para os desafios que estão postos para que possamos garantir, de fato, essa sucessão rural, com tudo o que norteia esse processo: políticas públicas de acesso à terra, ao crédito, produção e comercialização. Com a juventude sendo inserida”, analisa.
Dos nove estados do Nordeste, sete estão presentes. Marielle dos Santos Silva, 28 anos, moradora do sítio São José da Tapera, localizado no polo da bacia leiteira, em Alagoas, integra a Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (CNJTTR - CONTAG). Para ela, é importante discutir a sucessão rural de forma regionalizada. “Se os jovens estão migrando do campo para a cidade é porque faltam oportunidades. Não queremos só ficar no campo por ficar, mas precisamos ficar porque lá tem escola, lazer e cultura de qualidade, mas também trabalho e renda. Esse ambiente do campo precisa ser favorável à sustentabilidade do jovem. Essa é a hora de expressarmos quais são as nossas propostas e os nossos anseios”, declara.
Eduardo de Almeida Damasceno mora em Euclides da Cunha, no sertão da Bahia. Ele, que é secretário da Juventude no Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais e membro da Comissão Estadual de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais daquele estado, conta que quando a juventude se reúne para discutir é sempre muito importante. “Não existe sucessão rural sem direito à terra. O espaço de discussão nesse encontro está sendo fundamental e bastante proveitoso. Aqui, buscamos estratégias para travar essa luta em nível regional e local”, avalia.
Segundo Eduardo, na Bahia, a migração dos jovens para as grandes capitais, a exemplo de São Paulo, ainda é muito forte. “A juventude migra porque não tem alternativa na zona rural. Sem acesso à terra ela vai fazer o quê? Se nós conseguíssemos acessar a terra por meio de políticas públicas, tudo ficaria mais fácil, a exemplo do Pronaf Jovem. Porém, ainda existe muita dificuldade de acessar esses direitos. Infelizmente, há uma falta de credibilidade, por parte das agências financeiras, como se nós não tivéssemos condições de pagar o empréstimo”, desabafa.
Balanço Para a Contag, as questões centrais surgidas durante os encontros realizados nas cinco regiões são relacionadas ao acesso a direitos que, constitucionalmente, estão consolidados, mas que, na vida real, os jovens rurais não conseguem acessar, a exemplo da terra. O reconhecimento do jovem como um sujeito de direito para acessar políticas de crédito, comercialização, educação do campo ainda continua no papel.
Na opinião de Éryka Galindo, ainda recai sobre o jovem o sentimento de que ele é um sujeito em formação e, portanto, não está apto a vivenciar esses direitos. Mas a juventude vem combinando o debate de pautas históricas do Movimento Sindical Rural, como terra, produção e crédito, com a afirmação de outros direitos. “A juventude afirma o meio rural também como um espaço de vida. O que eu percebi durante esse giro pelas regiões é que na agenda dos jovens consta também o acesso às tecnologias de comunicação e informação; o direito ao esporte, ao lazer e à cultura, e relacionam a defesa de direitos às dimensões de geração, raça e gênero. Mas, infelizmente, o que mais surgiu como ponto central convergente ainda é o acesso às políticas que chegam de forma insuficiente no campo, nas cinco regiões. Nós já avançamos muito, isso é reconhecido, mas a juventude rural do Brasil ainda quer mais e está lutando, querendo construir disputas sociais para que as conquistas se efetivem”, conclui. FONTE: Assessoria de Comunicação da FETAPE