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25 de julho Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha: A nossa luta e os nossos passos vem de longe
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25 de Julho de 2017


Comunicação CONTAG- Fabrício Martins
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Foto: LR Fernandes ARTIGO: Jacqueline da Silva Costa1e Angélica Aparecida Reis Pereira2 O dia 25 de julho é um dia simbólico da luta das Mulheres Negras na América Latina e no Caribe. Esse dia foi criado após o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas em 1992, em Santo Domingos, na República Dominicana. No Brasil a Lei Federal N. 12.987/14 instituiu o dia 25 de julho como dia nacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha assinada pela presidenta da República Dilma Rousseff. A referida lei estabelece também esse dia como o dia Nacional Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Criar um dia simbólico de luta da mulher negra latina americana e caribenha é reconhecer que são as mulheres negras que estão em situações de vulnerabilidade social. De acordo com o Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil (2013), organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), aponta que a cor define o lugar social que essas mulheres ocupam, sobretudo em pesquisas que apontam os menores índices de escolaridade, os menores salários, a composição de um grupo majoritário que vivem na informalidade, não possuidoras de direitos trabalhistas e que em grande parte são chefes de famílias monoparental3.

Foto: Arquivo CONTAG- Luiz Fernandes Ao mesmo tempo, a criação desse dia está também ligada ao reconhecimento da luta empreendida no Brasil, na América Latina e no mundo por um movimento de mulheres em contextos urbanos e rurais. Essa organização tem ocorrido para promover a vida, igualdade de direitos, a liberdade de expressão, a garantia de direitos básicos (trabalho, educação, moradia, saúde e alimentação), o direito a terra e a permanência nela etc. Batizar este dia de “Tereza de Benguela” é reconhecer a necessidade de pensarmos a mulher a partir de um olhar que intersecciona e que une categorias de gênero, cor, raça, etnia, religiosidade e nacionalidade em um só tempo, em um espaço cujo legado histórico foi silenciado por muitos anos. Tereza de Benguela é um símbolo de luta e resistência que repugnou e lutou contra a colonização do corpo e da alma em defesa do seu povo. Uma guerreira nascida no estado de Mato Grosso é sempre será símbolo da resistência negra no Brasil colonial do passado e de hoje. Uma liderança quilombola que viveu no século XVIII, companheira de vida e de muitas lutas de José Piolho, grande liderança do Quilombo do Quariterê, situado nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade. A “Rainha Tereza”, apelido altivo por meio do qual fico conhecida, conquistou a fama da guerreira destemida por toda região do Vale do Guaporé, principalmente após a morte de seu esposo. Tereza assumiu o comando da comunidade quilombola e liderou levantes negros e indígenas em busca da liberdade do seu povo, resistindo bravamente à escravidão por mais de 20 anos. Durante seu comando, A Rainha Tereza criou uma espécie de parlamento e reforçou a defesa do Quilombo do Quariterê com armas adquiridas a partir de trocas ou levadas como espólio após conflitos. Nas suas terras eram cultivados milho, feijão, mandioca, banana e algodão, utilizado na fabricação de tecidos. (http://www.palmares.gov.br) Homenagear Tereza de Benguela, em 2014, ano de celebração dos 244 anos de sua morte, significou um importante passo do poder executivo para o reconhecimento da nossa ancestralidade africana. Significou também que um ícone feminino e negro precisava ocupar o seu devido lugar na sociedade e na memória dos povos da América Latina, do Caribe e do mundo. Essa homenagem pode ser comparada ao que Michael Polak4(1989), designa como o ato de desenterrar “memórias subterrâneas” que “prosseguem seu trabalho de subversão no silêncio e de maneira quase imperceptível afloram em momentos de crise um sobressalto brusco e exacerbado” (p.2).

Foto: Arquivo CNTAG- Rafael Fernandes Tereza vive em cada uma de nós! Nossos passos vem de longe! “E assim saber que nossos passos vem de longe porque... Eu sou Nzinga, sou uma rainha e lutei contra a escravidão... Eu sou Carolina Maria de Jesus, escrevo a minha própria história... Eu sou Aqualtune, sou uma princesa quilombola... Eu sou Chica da Silva, enfrentei a sociedade machista e racista... Eu sou Imperatriz TaituBitul liderei exércitos em defesa da minha nação Eu sou Léa Garcia e Ruth de Souza, sou a arte, tenho múltiplas facetas... Eu sou Antonieta de Barros fui a primeira deputada negra na História do Brasil Eu sou Cleópatra minha história já foi contada de mil maneiras Eu sou Acotirene, fui liderança em Palmares Eu sou Helenira Resende, eu lutei contra a ditadura militar e morri no Araguaia Eu sou Clementina de Jesus, a minha voz ecoou no mundo... Eu sou Na Agontimé fui rainha no Dahomé e na Casa das Minas no Maranhão Eu sou Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher a publicar um livro de literatura no Brasil. Eu sou a Rainha Teresa do Quariterê sou rainha, sou quilombola... Eu sou Lélia Gonzalez sou militante do movimento negro e do movimento feminista... Eu sou Mãe Estela de Oxóssi, sou guardiã da cultura e das religiões de matriz africana no Brasil Eu sou Luiza Mahin lutei pela construção de uma sociedade mais justa Eu sou Rainha de Sabá, meu nome está marcado na História. Eu sou Anastácia sou símbolo de luta do povo negro no Brasil. Eu sou Zeferina, liderei revoltas... Eu sou minha mãe, e sou minha avó, sou retirante nordestina... Eu sou, essas e tantas outras mulheres negras anônimas. Contando a trajetória das mulheres negras falo de mim simultaneamente, crio e recrio a NOSSA HISTÓRIA, a história de mulheres negras, que não tiveram direito de conhecer o seu próprio passado. Eu sou todas essas mulheres, pois quando conto a história de resistência delas desconstruo o silêncio e a subalternidade destinada às mulheres negras no Brasil, e à mim. Portanto, descubro que NOSSOS PASSOS VÊM DE LONGE... E que SOMOS TODAS RAINHAS..”5 1Profa. Adjunta do Instituto de Humanidades e Letras (IHL), da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Campus Liberdade, Redenção-CE. Email: jacquelinecosta.sol@unilab.edu.br 2Discente do Curso de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Email: angelica.iseila@gmail.com 3Família monoparental ocorre quando apenas um dos pais de uma criança arca com as responsabilidades de criar o filho ou os filhos. 4POLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15. 5Poema retirado do filme “25 de Julho feminismo negro em primeira pessoa”, ano: 2013. Realização da Associação Frida Kahlo e Articulação Política de Juventudes Negras 2011, SP. FONTE: Jacqueline da Silva Costa e Angélica Aparecida Reis Pereira



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