Em nenhum caso, evidentemente, a violência é aceitável como argumento para provar o acerto de uma tese. A Brigada Militar gaúcha estava apenas impondo o respeito à lei quando retirou, pela força, as cerca de 500 mulheres que na madrugada haviam invadido aquela fazenda de 2.075 mil hectares, arrancado os eucaliptos que estavam plantados em cerca de quatro hectares e montado acampamento no local. Houve uma batalha com algumas dezenas de feridos - e a "tradicional" participação de crianças e mulheres grávidas. Segundo as manifestantes, a Brigada usou balas de borracha e bombas na operação e o comandante da corporação em Livramento, Lauro Binsfield, afirmou ter levado um golpe de foice no braço. Em nota distribuída à imprensa, à tarde, a Via Campesina afirmou ter realizado a operação em protesto contra o plantio de florestas de eucalipto pela multinacional na região e contra os projetos, que tramitam no Congresso Nacional, propondo a redução da faixa de fronteira (cujas terras não podem pertencer a estrangeiros) de 150 para 50 quilômetros.
Registre-se que há no Rio Grande do Sul uma disputa entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Stora Enso, empresa líder no mercado mundial de papel e celulose. Em entrevista a este jornal o presidente do instituto, Rolf Hackbart, já declarou que a instalação de uma nova indústria de papel em território gaúcho, próxima à fronteira com o Uruguai, afronta a legislação brasileira.
Aliás, essa é uma questão que está gerando controvérsia até dentro do governo: de um lado estão a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, deputados da bancada estadual petista no Rio Grande do Sul - apoiados pela governadora tucana Yeda Crusius -, que são favoráveis ao investimento da multinacional; de outro lado, contra a nova fábrica, estariam os Ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, o Incra, o Ibama, outros deputados, prefeitos, movimentos ambientalistas (e o MST). Em torno dessa disputa há um projeto do senador da base aliada do governo, Sérgio Zambiasi (PTB-RS), que propõe a redução da faixa de fronteira vedada a estrangeiros. O que está em discussão é se, efetivamente, aí existiria alguma incompatibilidade entre desenvolvimento e segurança (ou soberania) nacionais - questão, aliás, que volta e meia vem à baila, mas agora ganhando o ingrediente complicador atualíssimo, da problemática ambiental.
Como se vê, a discussão está aberta e o tema é complexo, envolvendo "pomos da discórdia" econômicos, jurídicos e de lege ferenda. Mas o que não se pode admitir como "argumento" é o desfile da "tropa de choque" de mulheres brandindo foices, com o tradicional "escudo" de grávidas e crianças, dessa tal Via Campesina - organização européia que não tem credenciais para "meter o nariz" (para usar a expressão em moda) nos problemas de produção e de segurança fronteiriça do Brasil.
No caso da Aracruz, as lideranças do MST sabiam que não tinham outro "argumento" para defender sua posição a não ser a força predatória. Mas, neste caso, há racionalidade na idéia de selecionar melhor as áreas para plantio de eucaliptos, mesmo porque essa que está em questão está dentro dos 150 quilômetros da faixa de fronteira estabelecida por lei.
Por que não propor civilizadamente a discussão do problema? Será porque ao MST só interessa desafiar a ordem legal? FONTE: Estado de São Paulo ? SP