Relegados a segundo plano na agricultura, o sorgo e o triticale, que ainda ocupam um espaço pequeno no dia-a-dia das corretoras de commodities, estão prestes a ser "promovidos" na escala de importância dos grãos. A alta dos preços do milho e do trigo em função da maior demanda global, aumentou o interesse por esses dois produtos, vistos como os "primos pobres" dos grãos.
Resultado do cruzamento do trigo e do centeio, a produção de triticale, até pouco tempo marginal, começa a despertar o interesse dos moinhos do país. Hoje 60% do triticale produzido no Brasil são destinados às indústrias de alimentos e os 40% restantes à ração animal. Há três anos, a relação era inversa, mas mudou quando os moinhos passaram a usar o triticale em pré-misturas de farinha, diz Alfredo do Nascimento Júnior, pesquisador na área de melhoramento genético da Embrapa Trigo, um dos poucos especialistas em triticale do país.
Segundo Nascimento, as pré-misturas importadas da Argentina têm um alto teor de glúten. "O mix com triticale ajuda a contrabalançar. O grão também é usado para dar a liga na produção de bolachas", afirma. A economia com a mistura do produto nas farinhas chega a R$ 30 milhões. A expectativa é de que a demanda pelo produto cresça. Atualmente, a produção está estimada em torno de 160 mil toneladas. "Houve uma quebra de produção há duas safras", diz.
O aumento da demanda é atestado também pela maior produção de sementes. A oferta para plantio de triticale na safra 2006/07 cresceu 104%, para 11,6 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem). Os dados da safra 2007/08 ainda não foram contabilizados. As vendas também subiram, embora não no mesmo ritmo. Isso ocorreu, entre outros motivos, por causa do uso de sementes piratas, segundo Alessandra Bassan Bonomo, engenheira agrônoma da Abrasem.
"A procura por sementes está mais acentuada. O triticale tem crescido como opção de diversificação para os produtores", diz Emerson Jazar, da Sementes Prezzotto. Usualmente, a empresa, com sede em Xanxerê (SC), comercializa entre três e quatro toneladas de sementes de triticale. "Tem faltado. O pessoal tem comprado mais do que a gente produz", afirma Jazar. A empresa já separou 500 quilos para a produção de sementes para a safra 2008/09, já antevendo uma demanda maior.
O sorgo cava seu espaço no mercado interno há mais de dez anos e parece que só agora começa a fazer valer suas qualidades. Assim como o triticale, tem alto teor protéico, acima do milho, afirmam os pesquisadores da Embrapa. "A produção de sorgo no país seguia estável há quase três décadas, mas começou a deslanchar a partir de meados dos anos 90", diz José Avelino Santos Rodrigues, pesquisador de sorgo da Embrapa Milho e Sorgo.
Além da utilização na rotação de cultura com a soja, a maior disponibilidade de informações sobre o grão também estimulou a produção. O sorgo saiu de uma área plantada de 300 mil hectares em 1994 para 1,5 milhão neste atual ciclo, diz Rodrigues. Na mesma comparação, a produção saltou de 600 mil toneladas para 2,5 milhões de toneladas. "É 'primo pobre', mas tem seu valor", afirma Rodrigues. Segundo ele, o país produz cinco variedades de sorgo - granífero, forrageiro, pastejo, sacarino e vassoura. O granífero é o mais cultivado, uma vez que é destinado para o consumo animal e humano. O sacarino é voltado para a produção de etanol.
Além de substituir parcialmente o milho na ração animal, o sorgo também pode ser adicionado à farinha para consumo doméstico, afirma Rodrigues. "Há outros usos, como nas vassouras, em substituição à piaçava", afirma o pesquisador, que é contra o extrativismo da fibra.
"Com a alta do milho, o interesse pelo sorgo como substituto da ração animal tem crescido", diz Cassio Luiz Cruz de Camargo, secretário-executivo da Associação Paulista dos Produtores de Sementes e Mudas (APPS) e membro do Grupo Pró-Sorgo, composto por pesquisadores do grão. As vendas de sementes de sorgo podem atingir 8 mil toneladas nesta safra, estima Camargo, o que representará, caso a projeção se confirme, um aumento de 8% em comparação ao ciclo passado e 18% em relação à safra 2004/05.
Menos conhecido ainda que o sorgo e o triticale, porém, de importância fundamental em silagens e plantio direto (como cobertura do solo), o milheto também busca seu lugar ao sol. A área com o produto tem se expandido rapidamente nos cerrados brasileiros, sobretudo por não ser exigente em fertilidade do solo, segundo Déa Alecia Martins Netto, da área de recursos genéticos da Embrapa Milho e Sorgo. O milheto é muito usado na alimentação humana na África e na Índia, por ser o cereal mais importante cultivado nesses locais. Aqui no Brasil, ainda não é usado para o consumo humano, porém há receitas experimentais, como uso da farinha de milheto para fazer pães, bolos, biscoitos e mingaus. A produção nacional é estimada em 600 mil toneladas. FONTE: Valor Econômico ? SP