Hércules Barros
Da equipe do Correio
Cerca de mil pessoas se reuniram ontem em frente ao Congresso Nacional para um grande abraço pela aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que prevê o confisco de terras de quem explora o trabalho escravo no Brasil. A manifestação fez parte do ato organizado pelo Movimento Nacional pela Aprovação da PEC 438 e pela Erradicação do Trabalho Escravo e mobilizou lideranças políticas e movimentos sociais, além de entidades da sociedade civil e artistas durante toda a manhã.
A proposta está parada desde 2004 na Câmara dos Deputados, onde aguarda votação em segundo turno no plenário. Enquanto isso, a exploração prossegue. Apenas nos dois primeiros meses deste ano, o Grupo Especial Móvel de Fiscalização, ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, libertou 158 trabalhadores mantidos em condições análogas à escravidão em 13 fazendas do país.
Segundo o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a votação deve ocorrer até junho. "A presença dos manifestantes traduz um sentimento da sociedade e traz calor", falou aos manifestantes. A PEC está entre 15 projetos prioritários e precisa de 308 votos para ser aprovada. O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), pediu aos presentes paciência e aproveitou para alfinetar o Executivo. "Estamos aqui para legislar, mas vêm as MPs (medidas provisórias) empurradas goela abaixo e não se aprova mais nada", criticou.
Para o senador José Nery (PSol-PA), a votação não pode passar de 2008. "Mesmo que isso signifique não ganhar", observa. Nery é presidente da subcomissão permanente de combate ao trabalho escravo no Senado. O músico Otto Maximiliano, do Movimento Humanos Direitos, disse que o Congresso não pode se curvar aos interesses do agronegócio. "O povo é mais organizado do que essa Casa (Câmara). Não vai demorar para que os produtos do agronegócio e os políticos turvos sejam boicotados", afirmou.
Mico
Uma encenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no início do ato no auditório Nereu Ramos, na Câmara, pregou uma peça nos presentes. Assustado, o presidente da Câmara chegou a pedir para que cortassem o som do microfone quando um homem que dizia representar o agronegócio subiu ao palco e começou a discursar. Mas era tudo encenação.
Na representação, o falso agricultor se passou por integrante da "Associação do Campo de Progresso" e, sob vaias do auditório, começou a apresentar suas justificativas para manter a exploração de trabalhadores no Brasil. "O agronegócio depende do trabalho escravo para sobreviver. É só trocar o nome de trabalho escravo para trabalho necessário e tudo se resolve", disse.
Explicada a encenação, Chinaglia disse que acabou sendo enganado. "Fomos surpreendidos e pagamos o maior mico", brincou. Também foram ao ato os ministros da Secretaria dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, e do Trabalho, Carlos Lupi. FONTE: Correio Braziliense ? DF