Já se vão quase 13 anos da tragédia que virou símbolo da impunidade no campo brasileiro. 79 trabalhadores rurais do Estado do Piauí foram parar na Fazenda Porto Alegre, em Bom Jesus da Lapa, Bahia. O sofrimento na fazenda em que trabalhavam era grande. Passavam fome e frio sob barracas de lona e durante um mês e dez dias não puderam sair do mato. Volta e meia, os seguranças atiravam perto da barraca para mostrar quem mandava.
Não havia nenhum equipamento de proteção para lidar com a cata do feijão, tarefa para a qual haviam sido contratados. Trabalhavam descalços, mesmo com as cobras cascavéis que rondavam o acampamento.
Quase sempre sob sol forte, eles catavam pelo menos um hectare do legume por dia, mas só podiam comer arroz e esse mesmo feijão que colhiam. A mistura só tinha sal e óleo de soja. A comida saía da saca suja direto para a panela.
O isolamento da cidade e o medo prenderam todos no lugar. Ninguém tentou fugir, apesar da vontade e das humilhações diárias. Mas o pior ainda estava por vir. Em 22 de outubro de 1995, quando voltavam no caminhão para o estado onde moravam, os freios do veículo falharam. O caminhão tombou na altura de Rochedo, localidade de Formosa do Rio Preto (BA).
Morreram 14 catadores de feijão, a maioria de politraumatismo ou traumatismos de tórax, crânio e face. Quinze pessoas ficaram com lesões graves, grande parte delas não consegue mais trabalhar ou não dispõe mais das mesmas condições de trabalho de antes.
No boletim de ocorrência da polícia baiana, as sacas de feijão foram descritas e quantificadas precisamente no papel, antes da contagem dos mortos e dos feridos. Ao contrário da precisão dada para a carga, erros de datilografia nos nomes e nas idades das vítimas ainda atormentam a vida das famílias.
Condenação - A juíza do Trabalho na Vara de Bom Jesus da Lapa (BA), Sílvia Isabelle Ribeiro Teixeira, só se manifestaria 12 anos depois, em junho de 2007. Por enquanto, os responsáveis pela tragédia foram condenados em primeira instância da Justiça trabalhista:
As empresas de colheita de feijão na Fazenda Porto Alegre, a Agrocel Agropecuária Ceres Ltda. e a Galvani Fertilizantes devem pagar R$ 200 mil por danos morais a cada família dos 14 mortos. O valor também deverá ser pago pelo italiano Gaetano Módica, administrador da fazenda na época.
Para ler a matéria na íntegra sobre a tragédia com os trabalhadores piauienses, clique aqui: http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=23094.
FONTE: Reportagem Lúcio Lambranho, Congresso Em Foco