Agricultores acamparam na Prefeitura de Cascavel reivindicando moradia, alimentos, água potável e atendimento médico. Hoje, os manifestantes têm reunião com o prefeito e secretário da Agricultura
Trabalhadores rurais sem-terra acampados em Cascavel, no Litoral Leste, a 60 quilômetros de Fortaleza, reúnem-se hoje, pela manhã, com o prefeito do município, Eduardo Florentino Ribeiro, o Tino, e o secretário municipal da Agricultura, Flávio Carneiro. Ontem, eles estiveram acampados na sede da prefeitura, na avenida Chanceler Edson Queiroz, na entrada da cidade, reivindicando moradia digna, atendimento médico, alimentos (porque perderam toda a safra de grãos deste ano) e transporte escolar para as crianças.
"Viemos hoje (ontem) para sermos recebidos pelo prefeito, mas quem nos recebeu foi o secretário Flávio Carneiro (da Agricultura). Já tínhamos enviado ofício solicitando uma audiência, mas não tínhamos tido resposta", disse Damares Parente Silva, que participou ontem da manifestação na prefeitura. Segundo ela, são 96 famílias (em torno de 380 pessoas) que estão há quatro meses no acampamento Celibra, a 40 quilômetros da sede do município.
"Estamos consumindo água imprópria, salobra. Há 15 dias, as crianças - em torno de 60 - que estão no acampamento ficaram doentes, vomitando e foi preciso solicitar a presença de médicos à Secretaria da Saúde do Estado. Fomos atendidos, mas tememos que seja por causa da água que é do Canal do Trabalhador", completa Maurício Pereira, 29, também do acampamento da Fazenda Celibra.
Após a reunião com o secretário Flávio Carneiro e o almoço oferecido pela prefeitura, os trabalhadores rurais sem-terra retornaram para o local onde estão acampados. Receberam 20 cestas básicas e viajaram em transporte cedido também prefeitura municipal. "No acampamento da Fazenda Celibra não tem escola e fica distante para as crianças irem a pé. Corre o risco de perderem o Bolsa Família (programa do Governo Federal que beneficia as famílias com crianças matriculadas no ensino fundamental, mas que tenham freqüência)", completa José Militão, secretário de Política Agrária e Meio Ambiente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado do Ceará (Fetraece).
Segundo Militão, os agricultores vão ser recebidos às 10 horas de hoje pelo prefeito Eduardo Florentino Ribeiro e representantes das secretarias municipais da Saúde, Educação e da Defesa Civil. "A situação está muito difícil no acampamento. Desde que saíram da localidade de Brito e mudaram para o acampamento da Fazenda Celibra é difícil o atendimento médico. As equipes do Programa Saúde da Família (PSF) não passam por lá", complementa. (Rita Célia Faheina)
PROTESTOS
No fim de agosto, agricultores do município de Madalena, a 198 quilômetros de Fortaleza, ocuparam a prefeitura da cidade e ficaram acampados quase duas semanas. Eles reivindicavam 1.500 cestas básicas e o pagamento da primeira parcela do benefício Garantia Safra destinado a trabalhadores rurais que perderam mais de 50% de seus plantios por escassez de chuvas.
Os agricultores chegaram a fechar a BR-020 na altura do quilômetros 245, entre Madalena e Boa Viagem e só retornaram às suas localidades, na zona rural de Madalena, quando receberam as cestas básicas e a primeira parcela do Garantia Safra.
No mês passado, mais de 1.500 trabalhadores rurais sem-terra invadiram os quatro andares do prédio da Superintendência Estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Fortaleza, para cobrar o assentamento das famílias acampadas no Estado. De acordo com o MST, cerca de 1.700 famílias estão acampadas no Ceará, sendo que muitas delas estão há mais de cinco anos na luta pela Reforma Agrária. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra queria ainda a discussão com o governo estadual de um plano de convivência com o semi-árido.
No dia primeiro último, cerca de 1.200 trabalhadores rurais sem-terra acamparam no pátio interno do prédio da administração geral do Dnocs, no Centro de Fortaleza, reivindicando principalmente a doação de terras para a reforma agrária, água e alimentos. Ficaram no local até o último dia quatro. FONTE: O Povo ? CE