Jailton de Carvalho - O Globo, CBN, Jornal Hoje, GloboNews e O Globo OnlineReuters
RIO - Terminou sem acordo o encontro do presidente da Funai, Márcio Meira, com representantes da tribo cinta-larga para negociar a libertação de reféns dos indios, no sul de Rondônia. Desde sábado a tribo mantém na reserva Roosevelt, perto do município de Espigão do Oeste, o procurador da República no estado, Reginaldo Martins Trindade, o comissário da ONU em Genebra David Martins Castro, a mulher do procurador Ineida Hargreaves, o motorista da Funai Vicente Batista Filho e o administrador da Funai Aristodene Ferreira. Eles foram detidos quando visitavam a reserva a convite dos próprios índios para uma reunião.
Em uma reunião na sede do Ministério Público em Cacoal, ficou acertado que nenhum integrante da Polícia Federal irá até a reserva onde estão sendo mantidos os reféns. Uma comissão de índios saiu para negociar fora da área indígena. O procurador da República Reginaldo Martins Trindade, um dos cinco reféns dos cintas-largas, também participou da negociação.
Segundo Márcio Meira, os reféns estão sendo bem tratados pelos índios, informação que foi confirmada pela PF. Para um dos delegados que está acompanhando o caso de perto, os índios querem apenas chamar a atenção da mídia e, a partir daí, forçar concessões da parte do governo federal. O presidente da Funai disse que as reivindicações dos índios são justas e negociáveis.
- Os índios estão em situação de vulnerabilidade há muitos anos - disse.
De acordo com o delegado Rodrigo Carvalho, da base da Polícia Federal na cidade de Pimenta Bueno, na região da reserva, "o clima está tranquilo, ninguém está sofrendo constrangimento pelo sequestro".
Exigências dos indígenas
Os cintas-largas querem a suspensão do bloqueio da reserva pela PF "para que se garanta o direito de ir e vir dos índios", segundo a carta de exigência divulgada nesta segunda. Eles também reivindicam a extinção de aproximadamente 300 processos que correm contra eles na Justiça em Rondônia. Os cintas largas querem se livrar até mesmo do processo pelo massacre de 29 garimpeiros, mas, ao que tudo indica, a Funai só estaria disposta a ceder aos pedidos de melhoras na saúde e na educação.
A retirada da PF do entorno da reserva poderia abrir caminho para uma nova invasão em massa de garimpeiros. A tramitação dos processos não depende de decisões administrativas da Funai ou de qualquer outra instância do governo federal. Os índios também acusam a Funai de descaso.
- Sabemos que o governo apóia projetos de manejo florestal em terras particulares, por que não apoiar em terras indígenas? Por que não nos ajudar a preservar nossas terras, oferecendo renda para as comunidades indígenas e garantido a perpetuação de nossa fauna, flora e recursos naturais? - questiona o texto.
A região, que conta com cerca de 1.500 índios da etnia cinta-larga, é palco de confrontos entre os índios e garimpeiros que exploram de forma ilegal a famosa jazida de diamantes. A reserva Roosevelt tem 2,7 milhões de hectares. Segundo Rodrigo Carvalho, não se sabe exatamente o tamanho da jazida, já que nunca foi feito um estudo.
"Há sete anos, desde a descoberta da jazida de diamantes dentro da terra indígena Roosevelt, pertencente ao povo cinta-larga, e a consequente invasão das terras pelos garimpeiros, a situação tornou-se um barril de pólvora", disseram os índios na carta. "(...) trazendo consequências desastrosas para garimpeiros, indígenas e a população em geral".
O cacique Henrique Suruí, da tribo de mesmo nome em uma reserva vizinha à Roosevelt, ajudou a divulgar a carta e afirmou que o sequestro é pacífico, sem violência. Segundo o cacique, os policiais federais abusam dos índios na barreira das aldeias.
- Toda vez que o índio entra (na aldeia) é revistado, tem policial que tira a roupa das mulheres, que xinga o índio - disse o cacique por telefone, que reclamou da ausência do governo no local. FONTE: Globo Online ? RJ