Eduardo Sales de Lima,da redação Maria Ivete Bastos é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém e tem se destacado na resistência contra o processo de grilagem de terras, expulsão de pequenos agricultores e desflorestamento para a plantação de soja nessa região do Pará, e foi homenageada em Nova Delhi, na Índia, em setembro do ano passado, com o prêmio Mahatma Gandhi, tanto por esta luta sócio-ambiental quanto por representar o empoderamento das mulheres da Amazônia. Por essa atuação destacada, Ivete está marcada de morte pelos "grandes" da região - latifundiários e a elite política. "Em Santarém, cheguei a receber a ameaça pessoalmente e, depois de embates com empresários, casas foram queimadas e meu nome foi parar numa lista de marcados para morrer", relata Ivete. A sindicalista chegou a fazer um depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra, quando fez denúncias públicas contra latifundiários, homens públicos e um delegado local. "Os empresários estavam todos lá. Depois disso, vi um dos pistoleiros bem próximo da casa onde eu estava morando". A sindicalista alerta que, neste ano, foi descoberto que os grupos estavam matando pessoas até na área urbana, todas relacionadas ao problema de terra na Gleba Pacoval (região de Curuá-Una, oeste do Pará)". O Conselho Nacional dos Seringueiros elaborou um abaixo-assinado internacional, solicitando ao ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, que Maria Ivete Bastos seja incluída no Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, e que outros líderes da luta por reforma agrária e Direitos Humanos da região também recebam proteção. Segundo a CPT, em 2004, entre os 284 ameaçados de morte por questões agrárias em todo o Brasil, 103 residiam no Pará. E mais: entre os 777 conflitos agrários notificados no Brasil, 135 estavam no Estado da Região Norte. Ivete assinala que os empresários comandantes do "consórcio da morte", na região de Santarém, nunca foram punidos. Enfrentar os "grandes" Em 27 de fevereiro, a Organização de Estados Iberoamericanos (OEI) divulgou um estudo elaborado junto ao Ministério de Saúde do Brasil, segundo o qual as áreas de maior violência no país coincidem com aquelas onde existe conflito por terras, desmatamento florestal e trabalho escravo. Dados da CPT e da ONG Repórter Brasil revelam que, entre os 100 municípios mais violentos do Brasil, pelo menos 15 deles se detectam casos de trabalho escravo. Estas localidades se concentram em quatro estados: Mato Grosso, Pará, Roraima e São Paulo. O início do aumento da violência, sobretudo a partir de 1999, tem sido causada por uma corrida pela produção de soja com os efeitos conhecidos como desmantamento florestal e expulsão das comunidades e famílias camponesas. "A maioria dos fazendeiros quer soja. Foi o que estimulou o êxodo rural e os conflitos. Existem áreas onde houve gravíssimos conflitos, com casas incendiadas. Não tivemos a oportunidade de fazer nem sequer uma denúncia contra o "grande", pois a Justiça fez 'vista grossa'. Várias vezes fui vítima desse sistema. Chegaram a se reunir 27 sojicultores para mover uma ação contra mim", relata Ivete, com indignação. A sindicalista conta que o "extermínio" dos camponeses se amplificou com a chegada da Cargill e com a implantação do Porto de Santarém. Assinala que a região de Santarém possui um dos maiores índices de grilagem de terras no Brasil. "Existem áreas como a Corta Corda, um assentamento de reforma agrária, que tem 42 mil hectares nas mãos do 'grande', e a maior parte dessas terras foram adquiridas por meio da grilagem", explica. Mesmo com o aumento do número de pecuaristas e de madeireiros, "a soja é o que planta o maior impacto social e ambiental na verdade", de acordo com Ivete. "A maioria dos camponeses que saem de suas comunidades não tem qualificação profissional porque estão acostumados a trabalhar no campo e, quando vão para a cidade, são marginalizados", denuncia. Ela conta que a extração madeireira também se prolifera de modo ilegal. Na região da Gleba Nova Olinda, território de administração do governo do Estado, foram liberadas as áreas para plano de manejo sem considerar, mais uma vez, 14 comunidades tradicionais. FONTE: jornal Brasil de Fato