Quixadá. Centenas de homens e mulheres que vivem no sertão cearense devem lotar as galerias da Assembléia Legislativa hoje. Representam mais de 140 municípios que formam as nove microrregiões do Estado. Estarão acompanhados de representações de igrejas e de diversas Organizações Não Governamentais (ONGs). Participam de audiência pública na qual serão discutidos os rumos das políticas públicas de convivência numa das maiores áreas climatológicas do País, o semi-árido.
Antes da sessão, a caravana se concentra na Praça da Imprensa, em Fortaleza. Ali farão uma manifestação popular. O ato marcará as comemorações do Dia Estadual de Mobilização pela Vida no Semi-Árido.
Terá como objetivo a exposição dos resultados do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), desenvolvido pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA),um fórum de entidades não governamentais que amparam o sertanejo com programas sociais.
Na ocasião, será divulgado que o P1MC já construiu mais de 221 mil unidades, 28.475 delas no Ceará. Os dados serão distribuídos em panfletos.
"Uma demonstração da necessidade de reforço na continuidade do programa", informaram os organizadores do movimento. Eles também pretendem enviar uma carta política contendo informações sobre o P1MC, suas conquistas e desafios, ao presidente da República, Lula, e ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Abaixo-assinado
Um abaixo-assinado com mais de 45 mil assinaturas será encaminhado juntamente com o documento. Esperam que mais verbas sejam disponibilizadas e a construção do restante dos reservatórios domésticos seja agilizada.
A mobilização é organizada pelo Fórum Cearense Pela Vida do Semi-árido (FCVSA), Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece), Comissão Única dos Trabalhadores (CUT), MST e Cáritas Brasileira Regional.
Os mobilizadores afirmam que também contam com o apoio da Assembléia Legislativa, governo do Estado e Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT).
P1MC
O programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais - P1MC -foi iniciado em julho de 2003 pela ASA, entidade que reúne mais de 700 organizações da sociedade civil presentes no Nordeste com ações visando a erradicação da pobreza e a fome na região.
O objetivo do P1MC é construir uma cisterna para cada casa do semi-árido brasileiro, onde se calcula que vivem cerca de 3 milhões de famílias.
Após avaliação do impacto da construção de cisternas em algumas pequenas comunidades, a ASA decidiu tentar ampliar o projeto, para construir 1 milhão de cisternas que beneficiassem 5 milhões de pessoas no prazo de cinco anos.
Já foram construídas, ao todo, 221.362 cisternas. Os planos contemplavam a construção de 45 mil no primeiro ano, 138.500 no segundo, 275.400 no terceiro, 299.100 no quarto e 242 mil no quinto, a um custo estimado de R$ 1,3 mil para cada cisterna, nos cálculos das ONGs. Os números apontam que pouco mais de 20% da meta foi atingida.
Cada cisterna tem capacidade de armazenar 16 mil litros de água, captada das chuvas, por meio de calhas instaladas nos telhados. É construída por pedreiros das próprias localidades, formados e capacitados pelo P1MC e, pelas próprias famílias, que executam os serviços gerais de escavação, aquisição e fornecimento da areia e da água. Os pedreiros são remunerados e a contribuição das famílias nos trabalhos de construção se caracteriza com a contrapartida no processo.
Se a água acumulada no inverno for utilizada de forma adequada - para beber, cozinhar e escovar os dentes - dura aproximadamente oito meses.
A coordenação executiva do projeto especial idealizado pela Cáritas - uma instituição de ação social ligada a Igreja Católica - é composta por dois membros de cada estado do semi-árido, todos da região Nordeste e, ainda, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. É a instância máxima da Articulação, seguida dos Fóruns ou ASAs estaduais e dos Grupos de Trabalho (GTs).
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