Davi Venturino
Piratininga - Sessenta famílias de sem-terra deixaram a área central do Horto Florestal de Piratininga, onde moram há nove anos, e ocuparam a região mais alta do horto junto às plantações de eucalipto da Ripasa. Cerca de 45 barracas de lona foram levantadas no local para abrigar as famílias enquanto os sem-terra aguardam uma definição sobre o destino da área.
O grupo alega que o contrato de 21 anos da Ripasa - para exploração da área - com a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) teria vencido no dia 6 de novembro deste ano. Depois de esperar durante este período, o grupo quer agora que as terras do Estado sejam destinadas para a reforma agrária.
"O contrato de plantio de eucalipto da Ripasa foi por 21 anos. Esses 21 anos completou agora, no dia 6 de novembro de 2007. O contrato nos diz que eles estão proibidos de renovar", afirma José Cícero, 40 anos, integrante do grupo de sem- terra.
A área, de aproximadamente 1.300 hectares, é dividida em três lotes, sendo que parte das terras fica em Piratininga e parte em Cabrália Paulista.
O acesso ao horto é feito a partir da rodovia Bauru-Ipaussu, percorrendo cerca de cinco quilômetros de estrada de terra. Os integrantes do grupo sem-terra afirmam que não estão ocupando o novo local, apenas querem chamar a atenção para a situação.
"Isso não é uma ocupação. Isso é uma reivindicação para que a Ripasa acorde e lembre-se de que o povo precisa da terra para trabalhar. É só para chamar a atenção do governo, que está trabalhando em cima disso. O governo já sabe e a Ripasa está consciente. Nós estamos esperando deles uma resposta. Saímos lá de baixo e entramos aqui pacificamente", garante Cícero.
Aproximadamente 150 pessoas, 47 delas crianças, deixaram suas moradias, muitas de alvenaria pertencente à extinta Fepasa, e em protesto subiram para uma área localizada a cerca de um quilômetro acima, onde montaram, aproximadamente, 45 barracas de lona em meio aos eucaliptos.
O grupo de sem-terra tem planos para a área caso a reforma agrária se concretize. A idéia é criar uma cooperativa agrícola onde as famílias possam produzir e vender os produtos plantados.
Atualmente, a área central do Horto, onde vivem as famílias, não é suficiente, segundo elas, para se desenvolver a agricultura e colocar em prática a cooperativa. O que plantam hoje é apenas para o consumo próprio das famílias e para pequenas vendas.
"Aqui, o pessoal sempre viveu esperando este momento (da reforma agrária), mas trabalhando sempre para fora, para os fazendeiros", comenta Wanderson Marcelo, 33 anos, integrante do grupo. Segundo ele, a Federação da Agricultura Familiar (FAF) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) dão apoio ao grupo. "O apoio é mais jurídico e o resto a gente tem que correr atrás", completa Marcelo.
Os sem-terra acreditam que a vigência do contrato com o Estado impedia que a área fosse destinada à reforma agrária. "O contrato dele em cima da área barrava a legalização da nossa situação. Por isso que a gente até esperou o vencimento do contrato para iniciar o processo de reivindicação", confirma Marcelo.
O delegado titular de polícia de Piratininga, Paulo Calil, confirmou à reportagem do JC que foi registrado um boletim de ocorrência (BO) sobre a ocupação dos sem-terra na área desde o último dia 16 deste mês. "Não houve violência. Registraram o BO para tomar providências civis", diz Calil.
De acordo com o delegado, o BO foi encaminhado para a Delegacia de Cabrália Paulista já que a área ocupada pelos sem-terra foi registrada no Cartório de Registro de Imóveis de Duartina, portanto, não pertencente à jurisdição de Piratininga, ao contrário da sede do horto. FONTE: Jornal da Cidade de Bauru ? SP